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quarta-feira, 16 de agosto de 2023

De Leci Brandão para Fábio Aragão: “Por isso aceite e respeite o meu professor”

    

     Recentemente, por ocasião da entrega de um terreno para a construção de moradias populares, a representante do MTST, no seu discurso de agradecimento, afirmou: “o prefeito Fábio Aragão é o amigo da habitação”. Lembrando que, pra variar, o “amigo da habitação” entregou as quinhentas casas do Residencial Cruzeiro, obra conquistada no “Velho Tempo”, com recursos da ordem de 50 milhões e que teve a entrega atrasada, certamente por causa desse período negro pelo qual passou o país, a pandemia, potencializada por aquele ser desprezível e felizmente afastado das decisões governamentais, cujo nome nem vale a pena mencionar. Lembrando também que o residencial foi invadido e saqueado já no governo do Novo Tempo, que não conseguiu separar uns cinco ou seis seguranças, dentre os cerca de dois mil funcionários contratados da prefeitura (estatística da oposição), para vigiar a obra e prevenir o que acabou acontecendo.. Então, o “amigo da habitação” foi obrigado a passar por este constrangimento para, finalmente, entregar o residencial.

          Se Fábio Aragão é o “amigo da habitação”, podemos concluir que  ele é o “inimigo da educação”?  Quem dos 5.568 municípios brasileiros ou dos 27 estados da Nação ingressou na justiça pedindo a ilegalidade desse reajuste  que há anos vem sendo determinado pelo MEC como forma de garantir um piso salarial comum em qualquer município do Brasil, grande ou pequeno, do Sul ou do Norte, para professor urbano ou rural, do ensino infantil, fundamental ou médio, livrando o professor da política ou da perseguição? O mesmo prefeito que faz uso de recursos do FUNDEB para o caixa previdenciário; que prometeu gastar 48% com a folha de pessoal e já passou de 60%; que tentou destruir o plano de cargos e salários dos professores municipais; que impôs uma desgastante negociação para, ao final, conceder o que sempre quis, “reajuste zero” em 2023; que teve receio de se reunir com muitos professores por se sentir ameaçado; que deu um piti com um professor, que, indignado, chamou  de “indecente” o reajuste zero oferecido pelo chefe da municipalidade. O mesmo cujos apoiadores espalharam nas redes sociais supostos “altos salários” de professores, que estão há décadas na prefeitura e possuem títulos de mestrado, com o intuito, sempre ele, de jogar a população contra o legítimo movimento pelo reajuste.

        Mas, a mesma justiça que concedeu a liminar suspendendo o reajuste, tornou-a nula a pedido do Governo Federal, ou seja, o prefeito de Santa Cruz do Capibaribe não vai poder ostentar esse troféu de ter prejudicado centenas de milhares de professores em todo o Brasil. Terá, no entanto, no currículo, a chaga desse “ataque” a uma conquista histórica dos trabalhadores em educação, o piso nacional do magistério. Sem contar os vídeos de candidato bom moço, prometendo cumprir todos os reajustes a que os professores tivessem direito. Não só não cumpriu, empurrando 2023 para 2024, como mostrou a firmeza dos seus compromissos políticos e o valor da sua palavra. Quem sabe a população lhe faça uma “caridade” e ele não precise pagar o reajuste de 2024, já que não haveria o artifício de empurrar para o ano seguinte.

       Há pouco, numa consulta médica, fui questionado sobre minha profissão. Ao saber que sou professor, o médico foi ligo dizendo: “profissional desvalorizado e desrespeitado”. Disse que nos países europeus mais desenvolvidos o professor é reverenciado, principalmente se for da árdua educação infantil. Que há inclusive prioridade em aeroportos, tamanho é o respeito por quem se dedica a ensinar todas as outras profissões. Fala-se que no Japão o imperador só baixa a cabeça para um profissional, o professor, numa mostra do papel deste profissional  no avançadíssimo sistema tecnológico japonês. E a Coreia do Sul? Foi graças à educação que esse pequeno país se tornou uma reverência na produção de eletrônicos e automóveis. Aqui, na Terra da Sulanca, chegou-se ao cúmulo de questionar um professor com o título de mestrado dando aulas para o ensino fundamental. Pela derrota no TRF, pelo não cumprimento da palavra, por não ter tido respeito com os professores, batamos palmas para os mestres, como nos pede Leci Brandão, em solidariedade à sua luta, mas não o façamos para ele, o prefeito Fábio Aragão. O “amigo da habitação” não vestiu o boné da educação, mesmo que por 30 acanhados segundos, como o fez na cerimônia de doação dos terrenos. 


Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza. 

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