Passados quase dois anos do mandato da governadora Raquel Lyra, a pergunta que se faz é: como a gestora chegará politicamente para disputar a reeleição em 2026, considerando que sua aprovação popular não é das melhores, que não tem uma base sólida na Assembleia Legislativa, que não segurou os aliados que a ajudaram a derrotar a ex-deputada Marília Arraes e, principalmente, sabendo que seu adversário será o “Pablo Marçal” da esquerda (comparação apenas no aspecto midiático, na espuma da fama)? Some-se a isso o fato de ela estar filiada ao moribundo PSDB e ter na sua aliança política partidos insignificantes como o PSD (zero deputados) o PDT, o PV e o MDB, que devem mais reverência a João Campos do que mesmo a ela, detentora de uma máquina formidável que é o governo do Estado.
Mesmo o resultado das eleições
municipais não será um alento político para Raquel. Em Recife, a vitória
acachapante de João Campos vai moer até o bolsonarismo. Juntos, o candidato da
governadora e o candidato do ex-presidente, não chegam sequer a ameaçar um
segundo turno, o que já seria uma vitória, tamanho o favoritismo do prefeito do
PSB. E não se discute aqui o mérito desse favoritismo e sim a incapacidade da
oposição de provocar qualquer tensão num pleito onde o eleitorado já está
consciente de que vai votar em João e eleger Victor Marques. Não se trata de
reeleger um prefeito que é um potencial candidato a governador, mas de
reconduzir alguém que já está “formando o secretariado” para 2027.
È normal e tradicional que o candidato
da máquina agregue quase todos os prefeitos do estado. Terminado o pleito,
mesmo com a vitória de um oposicionista, a migração dos gestores da base do
derrotado para a base do vencedor é natural como a água que escorre conforme a
gravidade. Mas esse pode não ser o caso
da reeleição da governadora. Sua influência nesse pleito que se aproxima não
decide a eleição de ninguém. Aliás, ela corre o risco de ver seu candidato
perder na cidade simbolicamente mais importante, Caruaru. Em nenhum dos grandes municípios do estado, o candidato
a prefeito lidera porque pertence à base da governadora. E pra piorar, os
aliados sorridentes de agora, chamados inclusive no diminutivo, evidenciando o
carinho e a intimidade política, podem debandar para o barco de João Campos,
sem nenhum constrangimento.
Da aliança que a elegeu em 2022, ela
também não pode contar com a chamada “direita”, aquela que abriga o
bolsonarismo, como o PL de Anderson Ferreira, do Coronel Beira, do deputado
Abimael... Dependendo dos movimentos políticos de Raquel até o pleito de 2026,
é mais provável que essa turma corra também para a candidatura do filho de
Eduardo Campos, que, dado seu caráter político, não teria nenhuma dificuldade
em recebê-la. Depois do vexame que o sanfoneiro fanfarrão Gilson “Rachado” vai
passar em Recife, arrastando consigo o bolsonarismo, não tem como o PL pensar
em candidatura própria, exceto se o estoque de óleo de peroba não for
suficiente.
Não se sabe o porquê de a governadora
não ter segurado um nome importante da geografia eleitoral para 2026, o
ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho. Espaço administrativo na máquina
estadual havia à vontade, como também para a chapa majoritária em 2026.
Acrescente-se o secretariado fraco e não político que formou, obrigando-a a
fazer diversas mudanças já no primeiro ano de mandato. E a cereja do bolo
indigesto, a briga com o presidente da ALEPE, Àlvaro Porto. De concreto mesmo,
do ponto de vista político, restou-lhe a bancada do PP liderada por Eduardo da
Fonte, que, provavelmente, nem pleiteará uma vaga de candidato a senador. Deve
investir em mais uma reeleição e manter seu poder de fogo.
O grande desafio de Raquel não é só
dar visibilidade às ações administrativas, que são muitas e importantes para a
população, mas furar o balão do “governador” João Campos. Duplamente. Primeiro
entre os prefeitos e depois entre o eleitorado. E esse primeiro furo precisa se
dar até abril de 2026, momento em que o prefeito de Recife decide,
oficialmente, se deixa a prefeitura. Claro que já “deixou” nas conversas
internas, animado com a baixa popularidade da governadora, mas se ela se
recuperar perante a população, o socialista terá, no mínimo, um dilema: deixar
a prefeitura e arriscar o governo. Ele é muito jovem e não perderia muito se
esperasse para 2030, sem uma derrota para Raquel no currículo.
Terminado o pleito dos prefeitos, é
hora de a governadora mostrar serviço, levar até o conhecimento da população as
obras e iniciativas que divulga em suas redes sociais. Isso serve também para
animar possíveis aliados políticos. João já tem a chapa formada: ele para
governador, Silvio Costa Filho e Humberto Costa para o Senado e Miguel Coelho
para vice. Ela tem duas vagas de senador para negociar apoios políticos, mas
corre o risco de preencher com “qualquer um” se a certeza de uma derrota
estiver nas mesmas perspectivas de agora. Até a força política de Priscila
Krause, para se manter na vice, é questionável. Ela teria autoridade suficiente
para manter o Desunião Brasil com Raquel? O prazo que resta à governadora, para
melhorar a popularidade, é dezembro de 2025.
Sabe-se que o estado tem um
considerável volume de investimentos, destacando-se a reforma de estradas.
Investimentos significativos estão sendo feitos também na saúde a no
aparelhamento das forças policiais. A governadora se comunica bem nas redes
sociais e mantém uma relação amistosa com o presidente Lula. Amistosidade que
não parece oportunismo político. Isso pode ter alguma influência em 2026. Até o
líder do PSB dentro do PT, Humberto Costa, ficou chateado com a manobra de
João Campos para barrar o PT na vice, em
Recife. Se chegar fragilizada no início de 2026, resta a Raquel Lyra,
aproveitando esse beicinho de Humberto e a simpatia de Lula, dar “O pulo da
gata”, única forma de forçar o golpista do PSB a adiar seus planos de governar
o estado de Pernambuco.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.