Fotos: JC Imagens
Por Ayrton Maciel, no Jornal do Commercio
Cadê a oposição? Um dos fundamentos da democracia representativa – a existência de uma oposição – nunca foi tão diminuta em Pernambuco pós-redemocratização. As eleições 2010 quase pulverizaram do mapa parlamentar aqueles a quem a teoria política atribui o papel do contraditório e da fiscalização. As urnas encolheram a oposição, na Assembleia Legislativa, a uma quantidade menor que o número de dedos das mãos. E pode ficar pior: menor que o número de dedos de uma mão. De 1964 a 2011, mesmo na ditadura militar, a bancada oposicionista nunca foi tão frágil. Em meio ao fator Lula e à máquina que girou pró-Dilma Rousseff (PT) e Eduardo Campos (PSB), o resultado eleitoral deixou a bancada de oposição ao segundo governo socialista reduzida a nove deputados, contados os cinco eleitos pelo PSDB. Como os tucanos, até março – na expectativa de governistas e oposicionistas –, devem aderir à base do governo, a oposição pode ter que de desdobrar (ainda mais) para cumprir o seu papel.
A Assembleia vai se instalar no dia 1º de fevereiro com a perspectiva de uma bancada oposicionista que terá de se virar com quatro integrantes: dois do DEM, um do PMDB e um do PV. Isso, considerando-se que o deputado Daniel Coelho (PV) permanecerá na oposição, contrariando a posição dos verdes que acabam de aderir ao governo Eduardo Campos. O perfil parlamentar para 2011 a 2014 traduz, assim, o ápice de um sistema político que reproduz o pensamento de que “só sobrevive quem estiver do lado do poder”. Nem no período militar (1964/1985) a oposição foi tão raquítica em número. Se havia a poderosa Aliança Renovadora Nacional (Arena, depois PDS, depois PFL), a resistência à ditadura era liderada pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB, depois PMDB), menor em quantidade, mas com quadros qualificados e representativos de grande parcela da população pernambucana.
“Mesmo sob o regime militar, a oposição era sólida, ideológica, com uma vinculação nacional, porque era uma oposição ao regime”, lembra Pedro Eurico (PSDB), que não foi reeleito em 2010, depois de seis mandatos sucessivos, o primeiro em 1986.
Primeiro governador eleito pós-64, em 1982, Roberto Magalhães (PDS) assumiu o governo com uma base de 28 governistas, mas com uma oposição de 21 deputados. Quatro anos depois, Miguel Arraes – deposto pelos militares em 64 – foi reconduzido pelo povo ao governo do Estado, assumindo com uma base de 25, contra uma oposição de 24 parlamentares.
Em 1990, Joaquim Francisco (PFL) renunciou à Prefeitura do Recife, candidatou-se e elegeu-se governador, derrotando Jarbas Vasconcelos (PMDB). Joaquim assumiu em desvantagem, com uma base de 24 contra 25 deputados de oposição. Em 1994, Miguel Arraes retornou para um terceiro mandato, derrotando Gustavo Krause (PFL), que tinha o apoio de Jarbas (PMDB), pela aliança União por Pernambuco (PMDB/PFL). Arraes assumiu com uma minoria na Assembleia, 22 governistas contra 26 oposicionistas.
Quatro anos depois, em 1998, Jarbas derrotou o ex-aliado Miguel Arraes e conseguiu eleger uma grande maioria parlamentar: 32 a 17. Na reeleição, em 2002, uma reviravolta: a base ficou com 24 e a oposição com 25. Com a era Lula, Eduardo teve a primeira vitória em 2006 e conquistou uma massacrante base governista: 33 a 16. Em 2010, colheu os frutos da parceria com o ex-presidente e se reelegeu com uma Assembleia ainda mais governista: 40 contra nove da oposição.
Fonte : Jornal do Comércio de 16/01/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor, registrar E-mail