“Ganhamos”, bradava antecipadamente o deputado Renan Calheiros no dia do pleito que elegeu o amigo Fernando Collor de Mello como Presidente do Brasil, no segundo turno das primeiras eleições federais após a ditadura militar. As pesquisas “boca de urna”, na noite do dia 17, já indicavam a vitória do candidato do PRN para alegria dos aliados e frustração da oposição petista, que ainda aguardava o anúncio oficial do TRE, o qual sairia apenas na noite do dia seguinte.
“Eleição, a gente só pode falar sobre ela, depois de apurados os resultados”, disse Collor sorridente enquanto as pessoas em sua zona eleitoral, em Maceió, cantavam o hino do vitorioso: “é verde e amarelo, sem foice e sem martelo”.
Distante dali, em São Bernardo, no interior de São Paulo, Lula beijava a cédula antes de inseri-la na urna. Estava tranqüilo, acompanhado da mulher, Marisa. “Se eu tivesse um dia melhor do que esse, eu morreria de infarto”, disse ele, enquanto se dirigia ao carro que o levaria para sua residência, de onde acompanharia a apuração.
Collor ou Lula? Pela primeira vez em 29 anos, chegara o dia em que 80 milhões de brasileiros tinham nas mãos o poder de mudar o futuro do país, resumido em dois curtos nomes assinalados em milhões de cédulas e depositados em urnas de toda a nação.
O país se dividiu naquele domingo histórico e acreditou que gritar alto o nome de seu candidato poderia garantir mais um voto para ele. Houve prefeito que fez campanha para Collor no contracheque do pagamento do 13º salário, houve garimpeiro em Rondônia que pagou uma pepita de ouro para conseguir chegar a sua seção eleitoral, houve cabo eleitoral que fez boca de urna com propaganda para Collor, mas garantiu que seu voto era de Lula. Houve festa nas ruas do país, bandeiras coloridas ao vento, gente dançando, entoando hinos a favor ou contra seu candidato.
No fim, quatro milhões de pessoas decidiram o pleito. Com essa vantagem, Fernando Collor de Mello foi eleito chefe da nação. Em breve, o chamado Caçador de Marajás subiria a rampa do Planalto, trajando a cobiçada faixa presidencial.
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