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domingo, 9 de março de 2014

EDUARDO E AS ALIANÇAS CONSERVADORAS

Durante muito tempo, na política de Pernambuco, duas forças brigaram pelo poder: os conservadores, ligados à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação à ditadura militar, e os liberais ou progressistas, filiados ou simpatizantes do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), lutando pela redemocratização do país e pelo fim do regime autoritário.

A partir de 1982 os dois únicos partidos permitidos de atuar foram rebatizados: A Arena virou PDS, este deu origem ao PFL e o filhote deste foi o DEM. O MDB ficou PMDB e está aí até hoje, uma frente heterogênea com quase nada do passado de esquerda, uma legenda que reúne fisiológicos em todas as regiões do país, tendo em suas fileiras personagem aguerridos, forjados na luta contra os militares, como Jarbas Vasconcelos e outros que estavam no lado contrário, servindo aos generais, caso de José Sarney.

E vieram as outras legendas: O PDT, o PTB, o PT depois PPS, o PP,  voltou à cena o velho PC do B, mas na frente o PSTU, o PSOL...

Independente de tantas siglas que não dá mais para citar sem fazer uma consulta, em Pernambuco há pouco tempo atrás a disputa continuou entre os conservadores e os progressistas. Até meados da década de 80 as grandes lideranças políticas do Estado eram Marco Maciel, Roberto Magalhães, Gustavo Krause, Joaquim Francisco e seus seguidores, tendo como adversários os líderes populares Miguel Arraes, Jarbas Vasconcelos, Marcos Freire e Roberto Freire. Era como a luta do bem e do mal, ficando muito fácil para o eleitor fazia sua escolha.

A partir de 1984 as forças começaram a se misturar. Veio a Democrática para apoiar Tancredo Neves à presidência e PFL e PMDB ficaram juntos pela primeira vez. Nas eleições municipais, em 1985, Marcos Freire que havia sido derrotado por Roberto Magalhães, em 82, juntou-se ao governador do PFL para apoiar Sérgio Murilo para a prefeitura do Recife, contra Jarbas Vasconcelos, aliado de Arraes. Vitória da esquerdas, que um ano depois tomaram o governo do Estado.

O mesmo Jarbas que em 82 reagiu contra a aliança de Marcos Freire a Cid Sampaio, que manteve a esquerda unida na vitória de 85 e ajudou na vitória de Arraes em 86, estaria à frente em 1998 da aliança do PMDB com o PFL e se elegeria governador de Pernambuco. Ficou oito anos no poder, junto com Mendonça Filho e Arraes permaneceu fiel a seis ideais, fazendo alianças à direita, mas sempre tendo o cuidado de "manter a hegemonia das forças populares".

Eduardo Campos herdou o legado político de Arraes e passou a ser o líder político mais à esquerda no Estado. Suas alianças sempre privilegiaram o PT de Lula e o velho PC do B. Jarbas passou a ser o inimigo público número 1 e o socialista o derrotou impiedosamente, vingando Arraes. As grandes estrelas mais à direita foram envelhecendo e perdendo espaço. Marco Maciel perdeu a última disputa pelo senado, Roberto Magalhães desistiu de concorrer à Câmara Federal, Gustavo Krause "pendurou as chuteiras" mais cedo e o ex-governador Joaquim Francisco, depois de perder uma eleição para deputado federal, resolveu se converter à cartilha socialista.

Agora, com a candidatura de Eduardo Campos à presidência da República, está para se completar a aliança entre os progressistas (alguns se intitulando socialistas e até comunistas) e os conservadores.

O palanque do PSB em Pernambuco deve juntar o PC do B de Luciano Siqueira, o PDT de José Queiroz, o PPS de Roberto Freire, o PMDB de Jarbas e o DEM de Mendonça Filho, além da maioria dos partidos nanicos do Estado.

Essa aliança deve se refletir na maioria dos municípios de Pernambuco e é provável que Paulo Câmara (PSB), apadrinhado de Eduardo Campos na disputa pela sucessão estadual, seja apoiado por antigos adversários de Arraes e do antigo MDB, como Marco Calado (Angelim) João Mendonça e Mendonça Filho  (Belo Jardim), Tony Gel (Caruaru) e Ivo Amaral em Garanhuns. Pelo andar da carruagem até a vereadora recifense Priscila Krause, filha de Gustavo, que faz uma oposição ferrenha a Geraldo Júlio na Câmara, vai cair nos braços do socialismo tupiniquim.

Assim o atual governador de Pernambuco vai fazer um verdadeiro Frentão(não confundir com o Centrão de Ricardo Fiúza) para tentar eleger Paulo Câmara, que não conhece a maioria das cidades do Estado e é desconhecido por boa parte do eleitorado. Mas terá a favor de si as bênçãos do grande líder e um exército de prefeitos, vereadores, secretários municipais, ocupantes de cargos comissionados,  empresários, setores da imprensa e todo um leque de forças que gravitam em torno do poder e têm interesse na manutenção do atual conjunto de forças no Palácio das Princesas.

Eduardo Campos aprendeu com Arraes que se vence eleição fazendo alianças à direita. O neto foi além nas lições que aprendeu com o velho. Na sua arca de Noé cabe tudo e fica pouco espaço para as forças contrárias. Só não vence a eleição de véspera porque Pernambuco não é o Brasil e no plano nacional ele tem uma pedreira pela frente: a presidenta Dilma, Lula e o PT. Estes têm a máquina e muita força na maioria dos Estados da Federação.

Em Pernambuco, petistas devem se aliar ao senador Armando Monteiro. E aí vai ser luta de gente grande, uma eleição difícil, ficando complicado para o eleitorado distinguir quem é o conservador e progressista. Restará muito pouco de esquerda e direita, de ideologia. A não ser na utopia pregada pelo PSTU e o PSOL, a essa altura os únicos realmente interessados em manter os antigos ideais socialistas e libertários.

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