O ministro Fernando Haddad só sobreviveu ao primeiro naufrágio do Enem porque a União Nacional dos Estudantes já fora domesticada pelo governo. E só se mantém no emprego porque a UNE velha de guerra foi estatizada em 17 de dezembro de 2010, quando o Ministério da Justiça depositou R$ 30 milhões na conta bancária da entidade. A 17 dias do fim da feira, o presidente que não lê nem sabe escrever consumou a compra da UNE e deu por concluído seu mais ambicioso projeto na área da educação: reduzir a sigla a uma espécie de secretaria especial de proteção à meia-entrada.
O processo de estatização da entidade começou pelo espetacular aumento da mesada federal. Ao longo dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, as verbas destinadas à UNE somaram R$ 1,3 milhão. É uma quantia desprezível se comparada ao que foi arrecadado nos anos de bonança: entre 2003 e 2009, o apoio incondicional a Lula rendeu quase R$ 13 milhões. Não é pouca coisa. Mas parece dinheiro de troco diante dos R$ 57,5 milhões que o governo resolveu doar à UNE em 21 de junho de 2010.
Nessa data, ao chancelar a lei 12.260, Lula “reconheceu a responsabilidade do Estado pela destruição, no ano de 1964, da sede da UNE, localizada na Praia do Flamengo, número 132, no Rio de Janeiro, e, em razão desse reconhecimento, decide indenizá-la”. A bolada que animou o reveillon dos pelegos sub-30 quitou a primeira parcela da indenização. Faltam R$ 14,6 milhões, que Dilma Rousseff prometeu liberar até o fim do ano com o envio ao Congresso de uma Medida Provisória.
A direção da UNE jura que investirá R$ 40 milhões na construção do prédio de 13 andares projetado por Oscar Niemeyer. Além da sede da entidade, o colosso abrigaria um teatro, um memorial e a sede da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Só Deus e os jovens milionários sabem o que será feito do resto.
O que esperam os estudantes com mais de 10 neurônios no cérebro para sepultar de vez a velharia envilecida e criar uma entidade que saiba representá-los efetivamente? Se a UNE não tivesse perdido a vergonha, se os comerciantes de carteirinhas que controlam a sigla não estivessem lá para servir ao PCdoB, Fernando Haddad estaria desempregado há muito tempo. Tranquilizado pelo silêncio dos cúmplices e pela mudez das vítimas, continua liberado para completar a desmontagem do sistema de avaliação do ensino.
Convocado há dias para prestar contas a Dilma, Haddad chegou ao Planalto com cara de aviso prévio e saiu com pose de ministro vitalício. Decidiu adiar as férias ─ para resolver problemas criados por outros. E revelou que durante a conversa a presidente pediu ao pior ministro da classe que melhore o desempenho do MEC. É como pedir ao mais bisonho zagueiro do Jabaquara que jogue como Pelé.
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