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sábado, 7 de janeiro de 2012

“AI, SE EU TE PEGO!”

         Dr. Paulo Lima*

 “Com o sucesso ´Ai, se eu te pego´, o cantor paranaense Michel Teló traduz os valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes”.
Não pensem que  “fumei crak” ou, tal qual um conhecido nosso, proseei com a “Senhora de Engenho”. Como já disse, gosto mesmo é de conversar com o velho e bom escocês, como estou fazendo agora. Gosto e não nego!
Mas, o motivo de começar este artigo com esta manchete, na verdade, é outro. ´
E que não admito (vejam vocês a minha petulância) que uma revista do quilate de “ÉPOCA” traga na capa da edição desta semana uma manchete desta natureza. Para mim é um absurdo sem propósito!
Não que eu não goste da música. Como diria alguns dos que me lêem e que já passaram dos 50, já fui bom nisso! O problema é outro.
Ora, senhores, pergunto, como é que uma revista como “ÉPOCA”, pode dizer, numa manchete de capa, que esta canção traduz os valores  da cultura popular para os brasileiros?
Para mim, que já vivi, ouvi, me deliciei e cantei músicas como “Que nem jiló”, “Casa de reboco”, (que saudades do velho “Lua”),“Carolina” (grande Chico), “A ema gemeu” (Jackson do Pandeiro), pode trazer numa manchete de capa uma frase desta natureza? Para mim é um pouco demais... Nunca mais compro Época! A revista Veja já não entra aqui em casa. ÉPOCA vai ser outra, se depender de mim, claro.
Quanto à revista Veja, ela é muito parcial e só fala mal do PT. Não é que o PT seja lá estas coisas. Todos vocês e ZÉ DIRCEU sabem disso. Eu mesmo nunca iria para o PT, muito embora partido político aqui no nosso País não tenha cara, ou melhor, não tenha vergonha na cara. Acontece que eu tenho. Por isto nunca iria para o PT.
Mas, voltando ao tema, não é que eu não goste da música, repito. Se eu soubesse dançar e se tivesse vinte, vinte e cinco ou trinta anos, certamente gostaria de aprender a coreografia dessa música e dançá-la. Entretanto, já tenho bem mais, é verdade, e nunca fui bom nisso. Na dança, esclareça-se. O problema é outro.
È que não se pode, sob nenhuma circunstância, elevar esta porcaria (e agora eu assumo o risco de ser processado) à categoria dos maiores valores do cancioneiro popular de nosso País. Isto eu não admito!
E antes  que algum de vocês, que me lêem, digam que sou enxerido, gostaria de dizer, que, com o pouco que conheço de música popular brasileira me sinto na obrigação de tachar esta canção de porcaria, no mesmo plano que a revista “ÉPOCA” elevou a mesma como  uma tradução dos valores da cultura popular dos brasileiros. E repito: para mim é um pouco demais...
Se é assim, porque não colocaram neste pedestal aquela canção do carnaval do ano passado, que dizia: “Eu não, posso não, quero não, que a mulher não deixa não”..., interpretada na indefectível voz do cantor  “Reginho e Banda Surpresa”? Para mim é a mesa coisa!  Esta porcaria, é bom que saibam, nem ao menos é uma composição de MICEHL TELÓ. Foi composta por um tal de Antônio Diggs, de Feira de Santana, na Bahia, que se diz empresário de músicos e por Sharon  Aciolly, de Porto seguro, na Bahia. Nunca tinha ouvido falar nesses sujeitos. Mas, como digo, tinha que ser da Bahia...
Por favor, Senhores, se lêem este meu artigo até o final e não gostarem não me recriminem. Eu apenas estou defendendo a boa música popular brasileira, e pernambucana, calo, na qual não se pode incluir “Ai, se eu te pego.”  Nossa cultura é muito rica.
Como exemplos temos manifestações como maracatu, caboclinhos, baião, xaxado, coco de roda, ciranda, frevo e muito mais. Será que esse pessoal da revista nunca ouviu falar de cultura popular brasileira e pernambucana? Até parece coisa de analfabeto, vixe!
Eu só espero que nenhum prefeito, dos que conhecemos, tente contratar MICHEL TELÓ, usando o dinheiro do povo.
Mas até que seria engraçado ver um prefeito, nosso conhecido, após tomar “umas e outras”, fazer a coreografia da música. “Ai, ai, assim você me mata”... seria, realmente, de matar, de rir.
A propósito, para quem não sabe, o valor do cachê de MICHEL TELÓ já está beirando a casa de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) por cada apresentação. È pouco ou querem mais? 
Realmente, o povo merece coisa melhor, como diz o grande ARIANO SUASSUNA. É que, como diz o grande escritor, cachorro gosta é de filé. Ele come osso porque não tem outro jeito. Afinal, só lhe dão osso para comer!  Mas, o povo, não. O povo merece respeito!
Graças a Deus não teremos na programação da festa de Santo Amaro deste ano, aqui na nossa terrinha, figuras como GERALDINHO LINS e EVILÁZIO ARAÚJO (será que não?) como atrações. A programação, realmente, está bem melhor que nos anos anteriores.
Em tempo: Como ouvinte apreciador da boa música popular brasileira (não esta, do Michel Teló, claro), ainda espero que ouçamos coisas bem melhores. Enquanto não aparece coisa melhor, que tal esta canção:
“Eu já te falei tantas vezes, você não arranjava outro igual, desculpe Marina morena, mas estou de mal”... Vale à pena ouvi-la, sempre.

Um abraço a todos.

*PAULO ROBERTO DE LIMA  é  graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de  Procurador  Federal.

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