Nos poucos meses de euforia política que antecederam à primeira eleição direta para Presidente da República,na reabertura política depois de décadas de jejum, a novela "Que rei sou eu" foi levada ao ar no ano de 1989. Quatro anos após a volta dos Militares aos quartéis, a TV-Globo mostrava a formação de uma realidade Brasil num fictício reino de Avilan. Passados 27 anos, a mesma TV-Globo exibe a minissérie O Brado Retumbante mostrando como se transformou o Brasil Real dos Militantes no Poder.
A máxima televisiva “esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes, fatos ou acontecimentos terá sido mera coincidência”, em O Brado Retumbante, o autor Euclydes Marinho, incomodado com a onipresente corrupção do país, escreveu uma história sobre um presidente da República íntegro, honesto e mulherengo. Escancarou tanto uma realidade, com personagens tão parecidos com os da vida real, em aparência ou atitudes, como os políticos e jornalistas que cercam o presidente protagonista. É impossível ficar imune a tantas referências com a realidade, mesmo quando disfarçada de um “Brasil fictício”, ao que a atração se propõe, em que, por exemplo, a sede do governo foi transferida de Brasília de volta para o Rio de Janeiro. Creio que o grupo de políticos honestos determinados a acabar com os corruptos e com a corrupção, seja sim, este, o fictício na minissérie.
Em meio a uma programação de mau gosto e baixarias, de reality shows e tramas novelescas, O Brado Retumbante substituiu a minissérie Dercy de Verdade, que dizem que foi um sucesso, mas que não consegui assistir o primeiro capítulo completo para não vomitar. E bombando nos repasses, milhares de textos das mais variadas autorias criticando o excremento formatado em um BBB, até agora, falando bem ou mal, nada chegou até a mim sobre esta minissérie, recheada de diálogos ágeis, irônicos, repletos de frases feitas, mas ácidas, com referências à história moderna de nosso país.
Assim como não despertou a atenção dessas variadas autorias que escreveram sobre o tal BBB, a audiência também não correspondeu à qualidade da atração. Assim é o Brasil de ignorantes passivos nesses tempos em que a “nova classe C”, repassa textos e dita a programação da TV e comanda a audiência, O Brado Retumbante ficou poucos pontos acima do segundo lugar, a porcaria enlatada A Hora do Rush 2 apresentado pelo SBT.
O que poderia ser um simulacro do Brasil, a produção de oito capítulos mostra a trajetória do personagem, (o advogado e deputado Paulo Ventura, filho de uma mãe neurótica e com um tio trambiqueiro) como deputado até o momento em que um grupo de velhas raposas da política articula para que ele se torne presidente da Câmara para ser uma espécie de fantoche do sistema.
O que ele não esperavam é que pouco depois, o presidente da república e seu vice sofreriam um acidente de helicóptero e fossem dados como desaparecidos antes que o mandato de tais fosse concluído. É então que Paulo Ventura passa automaticamente para o cargo de presidente. Paulo Ventura tem uma personalidade bastante interessante que ora o traceja como um tremendo mulherengo, e ao mesmo tempo um político honesto e ético, querendo limpar Brasília de pessoas desonestas.
Enquanto alcança altos índices de aprovação popular com a sua postura, ele incomoda políticos a ponto de se tornar alvo de atentados. O principal inimigo é o Ministro da Justiça que na juventude, eram advogados idealistas dispostos a mudar o mundo. Hoje o vaidoso Floriano almeja a Presidência.
O Brado Retumbante, têm a política como veia dorsal, ou seja, enfatizam ações que envolvem autoridades e permitirá que o público acompanhe os bastidores da política e assim entenda como funcionam os mecanismos de chegada ao poder. Dessa forma, a proposta da minissérie é revalorizar o exercício da política no Brasil. Para tanto, o personagem terá a tarefa de convencer o público de que é possível acreditar na existência de políticos como Paulo Ventura, oferecendo um novo olhar sobre a maneira de fazer política no Brasil a partir de fragmentos do mundo real.
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