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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Brasil caindo na real


"No mercado, o clima é de que a festa brasileira acabou", relata Richard Lapper, no jornal britânico Financial Times "É como se de repente alguns analistas tivessem descoberto que o Brasil tem problemas”
"O Brasil é um país que desperta carinho, mas não respeito."
– diz o consultor britânico Simon Anholt

A desaceleração da economia brasileira estourou o que muitos analistas acreditam ter sido uma "bolha" de entusiasmo pelo Brasil no exterior.

Esse ritmo mais lento da economia brasileira foi confirmado nesta sexta-feira com a divulgação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) pelo IBGE. Segundo os números, no primeiro trimestre deste ano, o Brasil cresceu apenas 0,2% em relação aos três últimos meses de 2011.

Na segunda metade dos anos 2000, quando o Brasil ganhou a preferência de investidores estrangeiros, os holofotes da mídia internacional e, de quebra, o direito de sediar uma Olimpíada e uma Copa do Mundo, o termo "Brasilmania" passou a ser usado para referir-se ao crescente interesse internacional pelo país.

Agora, não só o fenômeno parece estar perdendo força como já há especialistas denunciando "exagero" nas análises negativas sobre a economia brasileira.

Um desses analistas é Jim O'Neill, economista do Goldman Sachs conhecido por criar o termo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China)."Os mercados financeiros costumam ir de um extremo a outro quando suas expectativas sobre um país não são confirmadas", disse O'Neill à BBC Brasil.

"As previsões para o crescimento brasileiro eram muito elevadas, principalmente depois da alta de 7,5% do PIB em 2010, e ajustes eram necessários. Mas agora há análises que estão exagerando problemas e riscos para o Brasil."

Ruchir Sharma, do Morgan Stanley, comenta que o sucesso do Brasil é baseado sobre uma premissa extremamente frágil: os preços das commodities.
Richard Lapper, diretor do Brazil Confidential, o serviço de análises sobre o Brasil do jornal britânico Financial Times, concorda. "No mercado, o clima é de que a festa brasileira acabou", relata Lapper. "É como se de repente alguns analistas tivessem descoberto que o Brasil tem problemas."

Entre os "exageros" segundo Lapper, estariam a análise de Ruchir Sharma, do Morgan Stanley, que defendeu, na revista Foreign Affairs, que da mesma forma como o Brasil subiu com os preços das commodities, pode cair com uma eventual desvalorização dos mesmos provocada pela desaceleração da economia chinesa.
2009, otimismo na capa do The Economista: “O Brasil decola”
Nouriel Roubini, economista conhecido por prever o colapso do mercado imobiliário americano, também voltou de uma viagem pelos Brics, em fevereiro, recomendando um "choque de realidade" em relação ao Brasil.

Para Neil Shearing, da consultoria Capital Economics, em Londres, um dos analistas "decepcionados" com o Brasil, o problema é que o crescimento brasileiro ficou atrás não só dos outros Brics, mas também de outros latino-americanos, como o México: "Havia uma bolha de entusiasmo pelo Brasil - e agora ela estourou", diz.

A mudança nas percepções em relação ao Brasil é evidente no tom da cobertura sobre o país em alguns veículos da imprensa internacional.

Em um artigo recente para a Foreign Policy, por exemplo, o escritor e jornalista Bill Hinchberger defendeu que o crescimento de 2,7% do PIB em 2011, fez o Brasil "acordar em uma quarta-feira de cinzas" de ressaca da euforia do crescimento da década passada. "O carnaval acabou", anunciou Hichberger.

No fim de 2009, uma capa da revista britânica The Economist trazia o Cristo Redentor alçando voo nos céus do Rio de Janeiro. "O Brasil decola", anunciava. No mês passado, a mesma revista ilustrava um artigo sobre as "fraquezas" da economia brasileira com uma imagem bem menos grandiosa: um boi debatendo-se para tentar sair de um pântano.

Além de o país estar crescendo menos que outros emergentes, há preocupações com as baixas taxas de poupança e investimento, o chamado Custo Brasil (excesso de burocracia, déficit de infraestrutura, etc) e a relativa falta de crescimento na produtividade da indústria. Como escreveu Marcos Troyjo, da Universidade de Columbia, em um artigo para a BBC Brasil, apesar de a Brasilmania ter feito muitos acreditarem que o PIB do Brasil "estava destinado a uma ascensão irresistível e sem escalas", o país não aumentou muito sua fatia da economia global na última década e só consegui tornar-se a sexta economia do mundo por causa do real valorizado.

Qual o valor real do Real?
As incertezas em relação ao Brasil são alimentadas tanto por fatores internos quanto externos. No plano internacional, o foco das preocupações hoje são as incertezas sobre a zona do euro e a as perspectivas de um desaquecimento da China – cenário que levaria a uma redução das exportações brasileiras e desvalorização das commodities.

Para Lapper esses fatores e a desaceleração brasileira podem assustar investidores de curto prazo, mas para os de médio e longo prazo as perspectivas ainda são muito boas. "O mercado consumidor do país é forte e setores como agronegócio, gás e petróleo continuarão a oferecer ótimas oportunidades de negócio."

Ainda não está claro quanto esse ajuste de expectativas sobre a economia brasileira no mercado e imprensa internacionais pode alterar a imagem do país com a opinião pública em geral em países estrangeiros.

O consultor britânico Simon Anholt, que faz um ranking com as nações mais admiradas do globo diz que as mudanças ocorrem lentamente nessa área e nem sempre acompanham questões ligadas a desempenho econômico.

"O Brasil era em 2011 o único país em desenvolvimento entre os 20 mais admirados", explica. "Mas curiosamente a sua imagem mudou pouco mesmo nos anos de bonança, estando fundamentalmente ligada a chavões como futebol e carnaval. É um país que desperta carinho, mas não respeito."

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