De Vinícius Torres Freire, na Folha de São Paulo:
NOS
MESES de férias do Congresso, a escassez de fofoca costuma dar vida a
cadáveres, a notícias-zumbi, tais como a da reforma política, que
vagabundeia pelas páginas de jornais até desaparecer num bloco de sujos
da Quarta-feira de Cinzas.
Neste ano, a eleição repulsiva no Congresso bastou para preencher quase
todo o vácuo das férias. Quase. O resto vem da inflação de notícias
sobre Eduardo Campos, governador de Pernambuco, PSB.
Caso jamais venha a ser presidente da República, Campos terá como ganhar
a vida como empresário de mídia & marketing, tal sua capacidade de
encher e soltar nos céus zepelins de propaganda.
Ninguém sabe se o governador será candidato em 2014, nem ele mesmo, mas o
preço do seu passe não para de subir. Verdade ou não, foi a única
figura mais ou menos nacional a aparecer como mentor de um movimento
organizado contra a eleição repulsiva no Congresso.
O período de baixa das ações de Dilma Rousseff (entre a elite) contribui
para a valorização de Campos. O desempenho mofino de Aécio Neves,
senador, PSDB, induz gente que não engole o PT a considerar a hipótese
Campos.
O governador vendeu a imagem de "pragmático" (esperto, pé no chão e que
não tem ou apresenta ideias que ofendam alguém). É popular. Teve
habilidade política para articular a engorda eleitoral de seu partido.
Não tem ficha na polícia, ao que se saiba.
Fez média bastante com Lula e o PT; está num partido chamado
"socialista", o que o diferencia da "direita" ogra, lugar que o PSDB se
reservou por incompetência e, claro, também por tolerar a multiplicação
de ogros de direita no partido. Mas não há risco de que Campos tenha
ideias de esquerda. Pode ser comprado por freguesia variada.
Campos é um personagem à procura de um autor. Tem embalagem, campanha de
marketing, logo, nome fantasia. Mas não tem gosto de nada. Que as
candidaturas tenham substância talvez seja uma expectativa anacrônica
nos dias de hoje, vide as "novas lideranças" brasileiras. Ainda assim,
onde Campos vai encostar seu burrinho quando tiver de recolher apoios
reais para um eventual governo?
Vai fazer média com a banca? Com a vasta clientela do BNDES,
"industriais desenvolvimentistas"? Quem serão seus pensadores, quem
serão seus economistas? O que fará do Estado de Bem-Estar Tropical, dos
gastos em transferências sociais que não muito em breve não poderão
crescer mais? Que tipo de pacto fará com o povo miúdo, se fizer reforma
nessa área?
Vai manter o Estado neste tamanho latifundiário, para ter pasto
suficiente para PMDBs? Tal como tantos governos brasileiros terá
desprezo pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, tal como Lula e,
agora, Dilma, que chegou ao extremo terminal de cogitar Gabriel Chalita
para o posto?
Ou vai realocar a ação do Estado, fazer uma revolução na pesquisa e
outra na educação (para o que terá de desmontar partes do Estado e
comprar brigas federativas)?
A vida de Eduardo Campos está muito fácil. Está surfando na onda da
mediocridade de figuras políticas; ninguém faz uma pergunta séria ao
candidato a candidato, que portanto pode fazer média com todo mundo.
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