Uma das
acusações mais feitas contra os ateus é que eles não podem provar que Deus não
existe. Normalmente, alguns religiosos afirmam isso quando confrontados com a
alegação de que não há provas que Deus exista. Mas quem tem que provar o quê,
nessa história? Veremos.
A
responsabilidade da prova está sobre quem faz uma AFIRMAÇÃO. Ou seja, se um
ateu afirmar que Deus não existe, ele deve apresentar bons argumentos que
sustentem sua afirmação. Assim como um religioso que afirmar que Deus existe
também tem a responsabilidade de fazer o mesmo. Resumindo: quem faz a afirmação
(negativa ou positiva) é que tem o ônus da prova.
Um caso
um pouco diferente é quando você diz que acredita ou não acredita. Por exemplo:
eu não afirmo que Deus não exista, eu não acredito. Alguns ateus defendem que
ser ateu é não crer na existência de divindades, enquanto outros defendem que
ser ateu é crer na inexistência de divindades.
Nesse segundo caso, o ateísmo é
uma espécie de crença. Não há nenhum problema no ateísmo ser uma crença, como
muitos pensam. Todos nós temos crenças, mas nem toda crença é religiosa. Na
verdade, a imensa maioria das crenças não são religiosas. Alguns ateus não se
sentem confortáveis em pensar que seu ateísmo é uma crença, assim como muitos
religiosos usariam isso contra alguns ateus.
Mas isso parte de alguns
equívocos. Eu, particularmente, nunca parei para analisar profundamente se
descreio na existência de divindades ou se creio na inexistência das mesmas.
Para mim o ponto fundamental é que penso que divindades não existem.
Eu nunca
afirmei que Deus não existe. Eu não acredito que ele exista, o que é bem
diferente. Não afirmo por que não posso provar que ele não exista. Penso que
existem bons motivos para pensar que ele não exista e é nesses motivos que está
apoiada minha descrença. Mas reconheço que esses motivos não são provas cabais
de sua inexistência.
Quando coloco na balança os argumentos contra e a favor da
existência de Deus, acho que os contra pesam bem mais. Segundo o filóso ateu
André Comte-Sponville, ninguém pode provar que Deus exista ou não exista. Não
acredito, mas reconheço que posso está errado. Assim como alguns religiosos
acreditam e reconhecem o mesmo. Um religioso que não afirma categoricamente que
Deus exista, mas apenas acredita, também não tem que provar nada. Ele
simplesmente apresentará suas razões para sua crença. Claro, ninguém é obrigado
a apresentar razões para crenças ou descrenças.
Não raro
alguns religiosos afirmam que Deus existe e quando alguém questiona, ele diz:
me prove que ele não existe. Como vimos, isso está errado. Quem fez a afirmação
é que tem que provar alguma coisa, não o contrário. Da mesma forma seria se um
ateu afirmasse que Deus não existe. Muitos religiosos afirmam que acreditam em
Deus por que ninguém nunca provou que ele não existe.
Ok, tudo bem. Mas alguém
provou que ele existe? O fato de não podemos provar que algo não existe não nos
dar bons motivos para pensar que esse algo exista. Pergunte a um cristão se ele
já provou que não existem 72 virgens esperando fundamentalistas suicidas no
paraíso! Se formos acreditar em algo só por que ninguém provou que não existe,
acreditaríamos em todos os tipos de absurdos.
Eu poderia afirmar que existe um
planeta há milhões de anos da Terra que é habitado por largatixas falantes. Se
ninguém puder provar que não existe tal planeta, isso nos oferece algum motivo
para pensar que esse planeta exista? Ora, seu afirmei, que prove!
Se você
é acusado por alguém de ter assaltado um banco, esse alguém deve provar sua
culpa ou você deve provar sua inocência? Claro, em ambos os casos a situação
teria seu desfeixo, mas se você foi alvo de uma acusação, que o acusador
apresente suas razões. Se o acusador não apresentar evidências que corroborem
sua afirmação você deve ser preso ou continuar livre? Claro que que você deverá
continuar livre! Por isso que somos inocentes até que se prove o contrário.
Certva
vez eu e um amigo nos envolvemos num acidente de carro. Um motoqueiro colidiu
com a porta do carro que vinhamos. Poucos minutos após a colisão, um amigo
nosso se aproximou e afirmou que testemunhou tudo e nos defendeu.
O motoqueiro
se irritou e falou que ele estava distante e que não viu como tudo aconteceu.
Meu amigo se virou para ele e falou: me prove que eu não vi! No calor do
momento, eu não iria tentar explicar que isso estava errado, claro. Mas
obviamente meu amigo estava errado. Se ele afirmou que viu tudo, cabia a ele
provar isso.
Para que seu testemunho tivesse validade é óbvio que ele deveria
está lá e ter visto como aconteceu o acidente. Imagine que você chegue numa
delegacia para testemunhar um acidente ocorrido numa rua do Recife e quando
delegado pergunte onde você estava exatamente, você responde: em Olinda,
dançando frevo.
Ou seja,
quem afirma que prove! Afirmou que Deus existe? Prove! Afirmou que não existe?
Prove! Afirma que estou errado? Prove!
(Carlos
Wilker)
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