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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

QUEM TEM QUE PROVAR O QUÊ?

Uma das acusações mais feitas contra os ateus é que eles não podem provar que Deus não existe. Normalmente, alguns religiosos afirmam isso quando confrontados com a alegação de que não há provas que Deus exista. Mas quem tem que provar o quê, nessa história? Veremos.

A responsabilidade da prova está sobre quem faz uma AFIRMAÇÃO. Ou seja, se um ateu afirmar que Deus não existe, ele deve apresentar bons argumentos que sustentem sua afirmação. Assim como um religioso que afirmar que Deus existe também tem a responsabilidade de fazer o mesmo. Resumindo: quem faz a afirmação (negativa ou positiva) é que tem o ônus da prova.

Um caso um pouco diferente é quando você diz que acredita ou não acredita. Por exemplo: eu não afirmo que Deus não exista, eu não acredito. Alguns ateus defendem que ser ateu é não crer na existência de divindades, enquanto outros defendem que ser ateu é crer na inexistência de divindades.

 Nesse segundo caso, o ateísmo é uma espécie de crença. Não há nenhum problema no ateísmo ser uma crença, como muitos pensam. Todos nós temos crenças, mas nem toda crença é religiosa. Na verdade, a imensa maioria das crenças não são religiosas. Alguns ateus não se sentem confortáveis em pensar que seu ateísmo é uma crença, assim como muitos religiosos usariam isso contra alguns ateus.

 Mas isso parte de alguns equívocos. Eu, particularmente, nunca parei para analisar profundamente se descreio na existência de divindades ou se creio na inexistência das mesmas. Para mim o ponto fundamental é que penso que divindades não existem.

Eu nunca afirmei que Deus não existe. Eu não acredito que ele exista, o que é bem diferente. Não afirmo por que não posso provar que ele não exista. Penso que existem bons motivos para pensar que ele não exista e é nesses motivos que está apoiada minha descrença. Mas reconheço que esses motivos não são provas cabais de sua inexistência.

 Quando coloco na balança os argumentos contra e a favor da existência de Deus, acho que os contra pesam bem mais. Segundo o filóso ateu André Comte-Sponville, ninguém pode provar que Deus exista ou não exista. Não acredito, mas reconheço que posso está errado. Assim como alguns religiosos acreditam e reconhecem o mesmo. Um religioso que não afirma categoricamente que Deus exista, mas apenas acredita, também não tem que provar nada. Ele simplesmente apresentará suas razões para sua crença. Claro, ninguém é obrigado a apresentar razões para crenças ou descrenças.

Não raro alguns religiosos afirmam que Deus existe e quando alguém questiona, ele diz: me prove que ele não existe. Como vimos, isso está errado. Quem fez a afirmação é que tem que provar alguma coisa, não o contrário. Da mesma forma seria se um ateu afirmasse que Deus não existe. Muitos religiosos afirmam que acreditam em Deus por que ninguém nunca provou que ele não existe. 

Ok, tudo bem. Mas alguém provou que ele existe? O fato de não podemos provar que algo não existe não nos dar bons motivos para pensar que esse algo exista. Pergunte a um cristão se ele já provou que não existem 72 virgens esperando fundamentalistas suicidas no paraíso! Se formos acreditar em algo só por que ninguém provou que não existe, acreditaríamos em todos os tipos de absurdos. 

Eu poderia afirmar que existe um planeta há milhões de anos da Terra que é habitado por largatixas falantes. Se ninguém puder provar que não existe tal planeta, isso nos oferece algum motivo para pensar que esse planeta exista? Ora, seu afirmei, que prove!

Se você é acusado por alguém de ter assaltado um banco, esse alguém deve provar sua culpa ou você deve provar sua inocência? Claro, em ambos os casos a situação teria seu desfeixo, mas se você foi alvo de uma acusação, que o acusador apresente suas razões. Se o acusador não apresentar evidências que corroborem sua afirmação você deve ser preso ou continuar livre? Claro que que você deverá continuar livre! Por isso que somos inocentes até que se prove o contrário.

Certva vez eu e um amigo nos envolvemos num acidente de carro. Um motoqueiro colidiu com a porta do carro que vinhamos. Poucos minutos após a colisão, um amigo nosso se aproximou e afirmou que testemunhou tudo e nos defendeu. 

O motoqueiro se irritou e falou que ele estava distante e que não viu como tudo aconteceu. Meu amigo se virou para ele e falou: me prove que eu não vi! No calor do momento, eu não iria tentar explicar que isso estava errado, claro. Mas obviamente meu amigo estava errado. Se ele afirmou que viu tudo, cabia a ele provar isso. 

Para que seu testemunho tivesse validade é óbvio que ele deveria está lá e ter visto como aconteceu o acidente. Imagine que você chegue numa delegacia para testemunhar um acidente ocorrido numa rua do Recife e quando delegado pergunte onde você estava exatamente, você responde: em Olinda, dançando frevo.
Ou seja, quem afirma que prove! Afirmou que Deus existe? Prove! Afirmou que não existe? Prove! Afirma que estou errado? Prove!


(Carlos Wilker)

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