Hoje metade da população depende do Bolsa Família. As casas de barro e a
vida precária com escassez de serviços como água e saúde ainda são as
mesmas do Estado retratado por Glauber Rocha no documentário "Maranhão
66", que o cineasta filmou quando o então deputado José Sarney tornou-se
governador, naquele ano, prometendo um novo futuro.
Foto: Douglas Lambert/Folhapress
Belágua está entre as cidades de pior índice de desenvolvimento humano do país
Reportagem de Lucas Ferraz
Belágua,
no interior do Maranhão, cabe em todos os clichês: é uma das cidades
mais pobres do Brasil, num dos mais atrasados Estados nordestinos, com
mais da metade de sua população dependente do Bolsa Família.
O
município do semiárido maranhense, pela segunda eleição consecutiva,
foi o que proporcionalmente deu mais votos para Dilma Rousseff (PT).
Ontem, a presidente reeleita recebeu quase 94% dos votos válidos – o
tucano Aécio Neves ficou com 6%. No primeiro turno, a petista obteve
92%, mesmo índice alcançado na eleição de 2010.
A 280 km da
capital São Luís, Belágua tem 7.191 habitantes e o quarto pior IDH
(índice de desenvolvimento humano) do Estado, mas saiu, nos últimos
anos, do patamar mais baixo de classificação social (pobreza extrema)
para, agora, ser considerada uma cidade na linha da pobreza.
A
leve melhora se deve às políticas sociais e de distribuição de renda
implementadas nos últimos 12 anos pelos governos do PT, pilares da quase
unanimidade de "dona Dilma", como os moradores de Belágua se referem a
ela.
O Bolsa Família beneficia 65% da população e é a segunda
fonte de receita ao lado de uma cota repassada pelo FPM (Fundo de
Participação dos Municípios). Não há empresas: ou se trabalha na roça ou
para a prefeitura.
As casas de barro e a vida precária com
escassez de serviços como água e saúde ainda são as mesmas do Estado
retratado por Glauber Rocha no documentário "Maranhão 66", que o
cineasta filmou quando o então deputado José Sarney tornou-se
governador, naquele ano, prometendo um novo futuro.
A velha
política sobrevive: o prefeito do PT providenciou neste domingo (26) de
sol transporte para centenas de eleitores dos povoados do município irem
votar.
"Faltar, aqui falta muita coisa, não sei nem por onde
começar a falar", dizia o aposentado Acelino de Araújo, 84, que saiu da
roça para votar na "dona Dilma".
Somente 3% da população tem
saneamento básico, segundo a prefeitura. Além da escassez de água, o
acesso ao município é ruim, o que compromete ainda mais o atendimento
médico à população.
Foto: Flickr
Câmara Municipal de Belágua
PROGRAMAS SOCIAIS
No
povoado de Pequizeiro, o casal Patrício, 70, e Naíldes dos Santos (que
diz não lembrar a idade) recorre como a maioria dos moradores ao rio da
cidade para abastecer reservatórios e tomar banhos.
O casal vive
numa casa de tijolos de barro, construída por ele há dez anos. "Voto na
dona Dilma porque agora tenho crédito, posso comprar comida fiada",
afirma Naíldes, que produz no quintal carvão e farinha. Há outros
motivos: a eletricidade chegou ao povoado com o programa Luz para Todos e
ela tem na família (filha e netos) beneficiários do Bolsa Família.
Novas
ruas também surgiram em Belágua por causa do Minha Casa, Minha Vida,
outra bandeira eleitoral de Dilma. "A casa foi entregue, só que sem
água", se resigna o pedreiro Ivanaldo Silva, 35, morador de uma delas.
Um
dos reflexos do Bolsa Família na cidade foi reativar a produção
artesanal de farinha de mandioca, importante para a subsistência local.
Neste
domingo, com urnas ainda abertas, Naíldes dos Santos comentava sobre o
futuro de Belágua, que segundo ela não sobreviveria sem o
assistencialismo federal.
"Surgiram histórias de que se ele
[Aécio] ganhar, os programas iriam acabar. Mas é mentira, ele mesmo
disse na televisão que era mentira. Se cortarem toda a ajuda, Belágua
acaba".
Quero visitar esse lugar.
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