ONDE HÁ FOGO HÁ FOGO?

           

 A semana que terminou foi cheia de simbolismos na política de Taquaritinga do Norte. E, como sempre, redes sociais e blogs de notícias foram os meios em que os movimentos das forças políticas explicitaram futuras alianças e presentes rompimentos. O ex-prefeito Jânio Arruda da Silva expôs publicamente em seu programa de rádio um estresse que teria havido com o pré-candidato a prefeito e ex-vereador Luiz Floriano, o municipalmente conhecido Batata. Segundo Jânio, Batata teria dado um ultimato: ou seria o cabeça de chapa da oposição Boca Preta, ou estaria fora. Não aceitaria a condição de vice.

          Quase que instantaneamente, apareceram nos grupos de mensagens fotos do ex-vereador Batata e seu irmão, Bá,  com o prefeito Lero e o pré-candidato Alysson Dias. Já corria sutilmente nas redes sociais a especulação de que o ex-vereador estaria de namoro com o grupo Calabar, principalmente depois que concedeu uma entrevista a uma emissora de rádio de Santa Cruz e, perguntado sobre alianças políticas, afirmou que “as portas estavam abertas”. Juntando os fatos, a entrevista, as fotos e o estresse com Jânio, nem parece mais o caso de se dizer: onde há fumaça, há fogo. Aparentemente,  a fumaça dissipou-se e o fogo crepita. È dito por todos que os irmãos jogam juntos e afinados. Batata não faria um acerto político que não levasse junto o irmão. Uma foto é uma foto, de um encontro casual ou circunstancial. Mas, no atual momento da política local, as fotos dos irmãos de Pão de Açúcar não deixam dúvidas do movimentos das “placas tectônicas” da disputa eleitoral que se avizinha.

                                                                          “SILVA DO MEIO”: FIEL DA BALANÇA 

       Um dos esportes prediletos do ex-prefeito Evilásio Araújo é festejar a “maior vitória” que um candidato já teve em Taquaritinga do Norte, referindo-se ao pleito de 2012 (um outro é negar que tenha esnobado a candidatura a vice em 2020 ou que não tenha tentado impedir uma candidatura Lero em 2016). Como se essa vitória fosse resultado apenas da grande gestão que fizera entre 2009-2012. Não menciona, convenientemente, a disputa acirradíssima contra Jânio em 2008, vencida graças à mística Calabar e não contextualiza a então candidatura Milton Cícero, um Dom Quixote no meio da pesada guerra Calabar X Boca Preta. Juntando a conjuntura, era claro que a disputa seria um passeio e Milton foi para o sacrifício do qual Jânio, surpreendentemente, resolveu abrir mão. Bom para os três. Jânio se tornou dono da maior votação da história para vereador, Evilásio se reelegeu e Milton se afirmou politicamente, plantou uma semente que acabou germinando em 2020. Hoje, preside  a Câmara Municipal e é voz poderosa nos arranjos políticos para 2024.

         Recentemente, em uma entrevista de rádio, Milton foi questionado sobre quem receberia seu apoio para prefeito na eleição do ano que vem. È o tipo de pergunta que se faz, mas já esperando uma resposta evasiva, comum na política, principalmente faltando um ano para as convenções partidárias. O presidente da Câmara disse que ainda estava observando os cenários e os nomes postos como pré-candidatos. Sugeriu também que levaria em conta quem melhor representaria a possibilidade  de desenvolver o município. Na “bolsa de apostas”, dá-se como mais provável um apoio ao candidato do prefeito Lero. Isso gera expectativas porque turbinará o grupo político que receber esse apoio, principalmente porque Milton não vai sozinho, leva consigo outros nomes que lhe são próximos. Há uma notória sintonia com o candidato da então terceira via de 2020, Fábio de Jairo, dono de uma expressiva votação que elegeu, inclusive, o próprio Milton para vereador. Assim como Batata e Bá, Milton e Fábio caminhariam juntos. Curiosamente, uma possível entrada dos dois de volta ao grupo Calabar seria mais um contratempo para as esperanças do ex-prefeito Evilásio, que sonha em ser escolhido para representar o grupo. O ex-prefeito certamente não contaria com a simpatia da dupla. Desdenhou de um e foi um dos motivos da diáspora do outro. Além isso, a pré-candidatura de Alysson Dias toma ares de fato consumado.

                                                                                        FIGA E TORRE DE BABEL

              Na oposição, o vice-prefeito Gena Lins deve estar ansioso para contar com a dupla Zeca-Evilásio no seu palanque, no caso de a candidatura Alysson se tornar irreversível. Com “Obama” contrariado, seria mais fácil para Gena tentar convencê-lo a deixar o grupo Calabar e apostar na terceira via. Uma candidatura solo de Evilásio seria inviável, possivelmente dentro do próprio partido. Caberia ao ex-prefeito, então, escolher de qual lado seria mais promissor o papel  de “figurante”. Sem tirar os méritos dele e considerando que os nomes de  Gena e Allysson já avançaram muito.

          Finalmente, o inesperado estresse acontecido na tarde do sábado, 10/06, entre o vereador Ronaldo César e o grupo que acompanhava o ex-prefeito Jânio da Silva. Sem histórico de rivalidades, houve um desentendimento por causa de ‘horário de programa”,  que terminou sendo captado publicamente já que se deu “ao vivo”. Interessa, normalmente, aos grupos de situação, que grupos de oposição se desentendam e se dividam. Porém, o ocorrido na rádio Farol surpreendeu porque Jânio e Ronaldo poderiam estar normalmente numa mesma aliança, dada a sintonia de críticas que fazem ao adversário em comum, o grupo Calabar.

Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.