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quinta-feira, 26 de maio de 2011
Magno discursa no plenário da Alepe
Confira a íntegra do discurso que Magno faz neste momento no plenário da Assembléia Legislativa de Pernambuco em agradecimento a homenagem prestada ao seu blog:
Não há um mundo que mais me encante, hoje, do que o mundo do jornalismo online, das notícias em tempo real na internet. Costumo dizer que com o advento da tecnologia, ao acessarmos as notícias, checarmos as nossas mensagens eletrônicas e assistirmos televisão através de um simples telefone celular, ficamos com a sensação de que o mundo já cabe na palma da nossa mão.
A evolução da humanidade não se dá mais por meio de ondas longas da história: os saltos de qualidade são vertiginosos porque vertiginosas são as revoluções tecnológicas, especialmente no campo da informação e da comunicação.
Da mente alfabética para a mente digital, transcorreram milhares de anos. As inovações dos mecanismos da mente digital ocorrem contínua e crescentemente em lapsos de tempo cada vez mais curtos.
As novas mídias e as redes sociais delas decorrentes fizeram nascer um novo cidadão: o cibercidadão, que jornalista ou não, comunicador ou não, pode ter em suas mãos a síntese da escrita, do som, e da imagem.
E difundi-la para o bem ou para o mal, em tempo real e em extensão global, indo além do virtual para penetrar no mundo real. E, deste modo, usar a inacreditável fusão da virtualidade real, revogando as noções tradicionais de tempo e espaço.
Carrego comigo, no entanto, os ecos inconfundíveis das antigas redações, envolto no aroma das tintas que davam forma à notícia, à informação e às idéias dos profissionais da imprensa escrita que faziam os jornais amanhecer na casa dos leitores.
Longe de ser saudosista considero que o diário feito de papel que se compra voluntariamente nas bancas ou se recebe em casa por assinatura ainda exerce a função fundamental de alargar a atenção do leitor, saciar o prazer do hábito, e repetindo o grande filósofo alemão Hegel, entender a leitura dos jornais como a prece cívica do homem moderno.
Um jornalista, além de talento precisa de muito trabalho, em primeiro lugar. O talento só não basta. Ele precisa de muita vivência, ele tem que mergulhar realmente na vida, para poder transmiti-la, porque o jornalista não é um criador de fatos, ele é um transmissor e precisa saber ver. E saber ver é só vivendo.
Imprescindível para o jornalista, também, é saber tocar o coração dos seus leitores. Eu escrevo com minha alma e o sentimento do mundo. Ao escrever, ofereço as paisagens da minha alma aos olhos dos meus leitores.
Para seduzir meus leitores escrevo como quem cozinha. O cozinheiro cozinha pensando no prazer que sua arte irá causar naquele que come. Eu escrevo pensando no prazer que o meu texto poderá produzir naquele que me lê.
O jornalista é um cozinheiro que a cada semana tem que inventar um prato novo. Por isso, ao lado da minha coluna, inventei o blog. Trata-se, na verdade, de uma escravidão, mas escrever também é um sofrimento. Todo texto prazeroso é doloroso, é um parto.
Com o blog, alcancei um universo de leitores nunca imaginado, conquistei a nova geração online e das redes sociais. Faço dele, como na minha coluna, uma tribuna permanente em defesa das causas mais nobres da população.
E para isso, preciso de energia e inspiração. Minha fonte permanente de inspiração é o meu Pajeú. Lá, tudo é belo, desde o canto de se ouvir, venha de onde vier, do sabiá, do acauã, do repentista, o luar e o pôr-do-sol. No Pajeú, até as pedras são mais rimas do que desenho.
Quem por ali nasce, gruda na terra e na poesia e nunca deixa o seu canto. O símbolo dessa resistência encontro nos meus pais, que mastigam e engolem a sede braba até hoje e nem deixam a estiagem vencer a coragem.
Rogaciano Leite, um dos maiores poetas do nosso Pajeú, de São José do Egito, o reino dos trovadores, cantou o sertão com um lirismo e um amor nunca vistos. São dele esses versos fenomenais:
Senhores críticos, basta!
Deixai-me passar sem pejo/
Que o trovador sertanejo/
Vem seu pinho dedilhar/
Eu sou da terra onde as almas/
São todas de cantadores/
Sou do Pajeú das Flores/
Tenho razão para cantar/
São sou um Manoel Bandeira/
Drumonnd ou Jorge de Lima/
Não espereis obra prima/
Deste matuto plebeu/
Eles cantam suas praias/
Eu canto a roça, a cabana/
Canto o sertão que é meu.
O jornalista não é alguém que vê coisas que ninguém mais vê. O que ele se propõe a fazer é, como o escritor ou o poeta, simplesmente iluminar com os seus olhos aquilo que todos vêem sem se dar conta disso.
Em jornalismo, é fundamental ter paixão e coragem. O correr da vida embrulha tudo, dizia Guimarães Rosa. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
É a paixão e a coragem que me movem na coluna política que assino na Folha de Pernambuco, nas postagens em meu blog, objeto desta homenagem e na apresentação do meu programa Frente a Frente.
Não faço jornalismo para agradar aos detentores do poder, mas aos leitores. Jornalismo é transformação social, é cidadania, é instrumento em defesa do povo e da coletividade.
Por isso, vale à pena citar Nelson Rodrigues: 'Sou um perplexo diante das coisas que faço e diante das frases que digo. Porque realmente todas essas frases vêm embebidas de sangue vivo. Eu não trapaceio. A minha grande e real virtude é não trapacear. Não sou moedeiro falso. E tenho realmente todas as coragens que o meu texto de ocasião exija.
Não poderia deixar de prestar algumas homenagens antes de encerrar esta fala. Primeiro aos meus pais Gastão e Margarida, a razão de tudo. Meu pai, que fez questão de vir aqui, tem 89 anos.
É um repórter nato, um escritor de alma sertaneja, poeta, romântico, apaixonado pelo sertão e, principalmente, pela política. Foi vereador e vice-prefeito de nossa Afogados da Ingazeira.
Minha mãe, a tua força e teu amor me dirigiram pela vida e me deram as asas que precisava para voar.
Quero destacar a minha família. Aline Mariano, minha esposa, meu xodó e inspiração, que também fui encontrar lá no meu Pajeú das flores. Ela abraçou a política partidária com coragem e elevado espírito público. Vem honrando o seu mandato como vereadora do Recife.
Aos meus filhos Felipe e André Gustavo, que residem nos Estados Unidos, e meu ponta de rama Magno Filho, aqui presente.
Homenageio, ainda, o meu amigo e empresário Eduardo de Queiroz Monteiro, que preside o Grupo EQM, do qual a Folha integra.
Amigo, Eduardo, é alguém cuja simples presença traz alegria, independentemente do que se faça ou diga. Acho mesmo que tudo o que fazemos na vida pode se resumir na busca de um amigo. Você é amigo de fé e camarada.
Aliás, a Folha me presenteou, hoje, com um belíssimo caderno e estou muito feliz. Aproveito para agradecer ao editor-geral da Folha, Henrique Barbosa, ao diretor Américo Lopes e toda sua equipe do comercial, que se envolveu na produção do caderno.
Queria agradecer também a minha irmã Denise Martins e ao jornalista e cineasta Amin Stepple, que produziram o vídeo que assistimos.
Agradeço, igualmente, ao deputado Antônio Moraes, pela iniciativa de realizar esta sessão comemorativa aos cinco anos do blog, e a todos os parlamentares e aos que aqui estiveram presentes.
Agradecer, por fim, à minha equipe do blog pela dedicação e empenho.
Encerro com uma frase do saudoso jornalista Samuel Weiner, que fez história no Brasil e que representa, também, a síntese do meu pensamento:
O jornalista que mata ou que trai a confiança de seu assunto é um médico que mata o seu paciente.
Muito obrigado.
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