Não
resta dúvida de que o Partido dos Trabalhadores, a despeito dos 17,2 milhões de
votos obtidos nas últimas eleições municipais, se transformou na Geni da
política brasileira. Não há dia que passe sem que que alguém, munido de uma
máquina de escrever ou de um processador de textos, não se disponha a atirar m…
ou jogar b… na Geni. Neste sábado, novamente, foi a vez da revista Veja, que
não poderia desperdiçar mais uma oportunidade. Afinal, foi nesta semana que
saíram as penas de prisão de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, três dos maiores figurões petistas.
Depois de duas capas recentes sobre
Dirceu e seus colegas, uma sobre os "réus" e a outra sobre os
"condenados", a sequência lógica seria sobre os "apenados",
mas, desta vez, a revista da Marginal Pinheiros se superou. O PT, segundo a
publicação de Roberto Civita, seria tão vil quanto a catarinense Ingrid
Migliorini, que leiloou sua primeira relação sexual. "Vender a virgindade
e comprar o apoio de partidos políticos são duas atitudes revelam em seus
autores a mesma concepção utilitarista e rasa da vida. Uma deprecia a
intimidade. A outra ultraja a democracia", diz o diretor de Veja,
Eurípedes Alcântara, em seu editorial.
Na
reportagem interna, Veja prega um sabão moral no PT, ao dizer que "nem
tudo se compra". De certa forma, a revista até ecoa reportagem recente do
247 sobre a venda da virgindade, que citou o livro "Everything for
sale", do acadêmico americano Robert Kuttner. Nele, o autor condenava a
tendência para que, tudo na vida, se convertesse numa relação mercantil, de
compra e venda.
Comparar, no entanto, um partido
político à virgem que leiloa seu hímen é simplificar, de forma rasteira, a
análise política, deixando de fora outras questões relevantes. Qual foi a
natureza, por exemplo, da aliança entre Fernando Henrique Cardoso e Antônio
Carlos Magalhães, selada em 1994, que cimentou a base da sua governabilidade?
Houve contrapartidas (um setor elétrico inteiro) ou se tratou apenas de uma
aliança programática? De que maneira FHC obteve votos no Congresso para
garantir sua reeleição, sem a qual, revistas da Abril, como Exame, diziam que o
Brasil quebraria? (e o fato concreto, não custa lembrar, é que o Brasil, mesmo
com FHC reeleito, quebrou e caiu três vezes no colo do FMI).
Veja pode ter tido uma
"sacada", mas com a capa desta semana – que compara uma jovem que se
prostitui a um partido – não contribui em nada para engrandecer o debate
político, nem para aperfeiçoar as instituições.
Recentemente,
Eurípedes Alcântara se viu forçado a falar sobre ética, justamente quando foram
desnudadas as relações da revista com o bicheiro Carlos Cachoeira – este, sim,
um personagem que acreditava na lógica do tudo à venda. Tudo mesmo: políticos,
juízes, procuradores, delegados e jornalistas. No seu editorial, chamado
"Ética, uma reflexão permanente", Eurípedes defendeu a parceria
jornalística com criminosos. Na sua nova elaboração ética, a conclusão é a de
que o PT prostituiu o País. Mas Veja – a revista, não o detergente – está aí
para limpar.
(Fonte: Brasil 247).
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