Da deputada e jornalista Terezinha Nunes, no Blog do Jamildo:
Em 1978, o então estudante Edval Nunes da Silva, o Cajá, membro da
Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Olinda e Recife e amigo de Dom
Hélder Câmara, foi preso pela Polícia Federal em Recife, acusado de
pertencer ao clandestino Partido Comunista Revolucionário (PCR).
O caso, que foi notícia nacional, causou constrangimento ao então
arcebispo, ainda hoje venerado pelos católicos e considerado um
verdadeiro santo. Não que Dom Hélder se intimidasse com a perseguição da
ditadura militar que o ameaçava constantemente e que já tinha provocado
o assassinato, dez anos antes, do seu principal assessor, o padre
Henrique.
É que, só na prisão, o arcebispo descobriu que fora enganado por Cajá.
Dom Hélder, antes de constituir a Comissão de Justiça e Paz, que
notabilizou sua luta pelos direitos humanos, havia perguntado a todos os
possíveis membros – inclusive Cajá- se militavam em alguma partido
clandestino pois não admitia tal envolvimento dos seus subordinados.
Cajá disse que não e foi nomeado.
Na prisão, porém, se descobriu, para desgosto de Dom Hélder, que Cajá
era mesmo do PCR. E não precisou nem que a polícia tirasse esta
conclusão, o próprio estudante se revelou através de bilhetinhos que
passava para outros presos se dizendo militante do partido e até citando
pessoas da Arquidiocese que lhe levavam comida na prisão, dando a
impressão de que as mesmas também eram da mesma organização.
Dom Hélder, que havia defendido o estudante, inclusive dizendo que ele
não era do PCR, se sentiu muito mal com a descoberta e nunca mais tratou
Cajá com a mesma atenção.
Esta semana, 34 anos depois, Cajá reapareceu no cenário político, onde
se encontrava recolhido ou pelo menos longe dos holofotes, para
protagonizar um outro episódio vexatório. A imprensa o surpreendeu no
Aeroporto dos Guararapes liderando um pequeno grupo de pessoas que para
lá se deslocou para agredir verbalmente a blogueira cubana Yoani
Sánchez.
Era a senha para o que viria depois envergonhando os brasileiros, povo
conhecido pelo respeito à liberdade de opinião. Começando em Pernambuco,
primeiro estado onde Yoani pôs os pés, na Bahia a deselegância com a
visitante continuou, impedindo-a até de desenvolver uma atividade
prosaica: assistir a uma documentário no qual era entrevistada sobre a
sua defesa dos direitos humanos em Cuba.
Na mesma semana em que Pernambuco sepultava um dos seus principais
líderes políticos, o ex-ministro Fernando Lyra, reverenciado
nacionalmente por ter acabado com a censura à imprensa no Brasil, Cajá e
seus companheiros davam uma clara demonstração de intolerância e
desrespeito à liberdade de expressão.
O episódio da intolerância dos radicais de esquerda acabou, porém, não
tendo o eco esperado e, segundo a Revista Veja, orquestrado pela
embaixada de Cuba e um assessor do ministro petista Gilberto Carvalho:
pelas redes sociais pessoas de todas as classes sociais condenaram os
gestos dos descontentes e defenderam Yoani que acabou experimentando no
Congresso – onde não estava prevista sua ida – o direito final de ver o
documentário que não pode assistir na Bahia.
Em 1978 como agora, Cajá deixa o cenário não mais como um militante, mas como um verdadeiro trapalhão.
(Na ilustração uma foto de Edival Nunes da Silva, o Cajá, no jornal O Globo).
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