DO JORNALISTA RICARDO KOTSCHO:
"Por que o bloguista
inexplicavelmente não conta nada sobre Rosemary e o possível envolvimento do
ex-presidente Lula em algumas operações ilícitas? Aonde está a sua
imparcialidade de jornalista?", pergunta o leitor Fernando Aleador, em
comentário enviado às 04h57 desta sexta-feira.
Tem
toda razão o leitor.
Demorei
para escrever e dar esta resposta porque, para mim, estes últimos foram os dias
mais difíceis da minha já longa carreira, posto que os fatos envolvem não só
velhos amigos meus, como é do conhecimento público, mas um projeto político ao
qual dediquei boa parte da minha vida.
Simplesmente,
não sabia mais o que dizer. Ao mesmo tempo, não podia brigar com os fatos nem
aderir à guerra de extermínio de reputações e de desmonte da imagem do
ex-presidente Lula e do PT que está em curso nos últimos meses.
A
propósito, escrevi no começo de novembro um texto que se mostrou premonitório
sob o título "O alvo agora é Lula na guerra sem fim", quando o STF
consumou a condenação dos ex-dirigentes do PT José Dirceu, José Genoíno e
Delúbio Soares.
De
uma hora para outra, a começar pelo julgamento do mensalão, até chegar às
revelações da Operação Porto Seguro, o que era um projeto vitorioso de resgate
da cidadania reconhecido em todo o mundo levou um tiro na testa e foi jogado na
sarjeta das iniquidades.
"O
que me intriga é saber por que agora, por que assim e por que tamanha
insistência. É claro que o esforço para acabar com a corrupção é legítimo e
louvável, mas não terminaram recentemente de sangrar o PT até a entrada do
necrotério? Quem estaria sedento por mais?", pergunta-se a colunista
Barbara Gancia, na edição de hoje da "Folha", e são exatamente estas
as respostas que venho procurando para entender o que está acontecendo.
Talvez
elas estejam na página A13 do mesmo jornal, em que se lê: "FHC acusa Lula
de confundir interesses públicos e privados". Em discurso num evento
promovido pelo PSDB no Jóquei Clube de São Paulo, na quinta-feira, o
ex-presidente pontificou, mesmo correndo o risco de falar de corda em casa de
enforcado:
"Uma
coisa é o governo, a coisa pública, outra coisa é a família. A confusão entre
seu interesse de família ou seu interesse pessoal com o interesse público leva
à corrupção e é o cupim da democracia".
Sem
ter o que propor ao eleitorado, após sofrer três derrotas consecutivas nas
eleições presidenciais, e perder até mesmo em São Paulo na última disputa
municipal, o PSDB e seus alíados na mídia e em outras instituições nacionais
agora partem para o vale-tudo na tentativa desesperada de eliminar por outros
meios o adversário que não conseguem vencer nas urnas.
Nada
disso, porém, exime o ex-presidente Lula e o PT de virem a público para dar
explicações à sociedade porque não dá mais para fazer de conta que nada está
acontecendo e tudo se resume a uma luta política, que é só dar tempo ao tempo.
A
bonita história do partido, que foi fundamental na redemocratização do país, e
a dos milhões de militantes que ajudaram a levar o PT ao poder merecem que seus
líderes venham a público, não só para responder a FHC e às denúncias sobre a
Operação Porto Seguro publicadas diariamente na imprensa, mas para reconhecer
os erros cometidos e devolver a esperança a quem acreditou em seu projeto
político original, baseado na ética e na igualdade de oportunidades para todos.
Chegou
a hora da verdade para Lula e o PT.
É
preciso ter a grandeza de vir a público para tratar francamente tanto do caso
do mensalão como do esquema de corrupção denunciado pela Operação Porto Seguro,
a partir do escritório da Presidência da República em São Paulo, pois não
podemos eternamente apenas culpar os adversários pelos males que nos afligem.
Isso não resolve.
Mais
do que tudo, é urgente apontar novos caminhos para o futuro, algo que a
oposição não consegue, até porque não há alternativas ao PT no horizonte
partidário, para uma juventude que começa a desacreditar da política e precisa
de referências, como eu e minha geração tivemos, na época da luta contra a
ditadura.
Conquistamos
a democracia e agora precisamos todos zelar por ela.
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