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quarta-feira, 13 de abril de 2011

A rebelião no Palácio do Planalto


Os presidentes da Petrobras e do BNDES estão em frontal confronto com o Ministro da Fazenda Guido Mantega. Criticam, desmentem e tripudiam do homem encarregado da política econômica do país, num dos momentos mais delicados da economia brasileira, nos últimos anos. A presidenta Dilma parece não querer colocar a sua mão nessa cumbuca.
Foto: Arquivo

Os rebelados: o presidente do BNDES, Luciano Coutinho e da Petrobras Sergio Gabrielli. Por trás deles ministros e o presidente do Senado

Fontes: Folha de São Paulo, Blog do Josias de Souza, Folha de São Paulo

Tal qual como aconteceram nas ditaduras islâmicas da África, um grupo rebelde instalou-se no Palácio do Planalto. Suas pretensões são modestas, não pretendem derrubar a presidenta Dilma Rousseff, querem apenas a cabeça do ministro da fazenda Guido Mantega, um dos protegidos mais queridos do ex-presidente Lula, tudo como corpo estranho, incomodo e incompetente , pelos novos ocupantes das estatais e alguns ministérios.

Há quem diga que nem Dilma gosta de Mantega e nem da sua forma de conduzir a política econômica. Além das costas quentes de ser um ministro da cota de Lula, a presidenta tem que avaliar que não seria de bom tom, diante da comunidade internacional, uma mexida radical na equipe econômica, há apenas três meses da sua posse.

Estanho porem, é o fato de nos seus primeiros dias de governo, a presidenta não vacilou em desautorizar publicamente alguns ministros que fizeram declarações em desacordo com o seu pensamento, e até agora, não se manifestou de forma contundente diante de um assunto tão relevante.

Não é coisa para amadora, liderar 39 ministros e centenas de presidentes de estatais poderosos, com interesses pessoais bem acima dos nacionais, com ambições políticas locais e nacionais, contas a prestar aos partidos e aos caciques políticos que os colocou no cargo.

O blogueiro da Folha, Josias de Souza, chamou a política econômica da nossa presidenta de “saco de gatos”, e disse que se ela não cuidar de realinhar os ministros, o Palácio do Planalto vai virar “a casa da mãe Joana’.

O grupo de rebeldes centrado em destronar o Ministro Guido Mantega, provavelmente não o fazem por razões republicanas. Querem o cargo para si, ou para algum apadrinhado, mais adequado aos seus interesses. Juntos minam as ações do ministro oriundo do governo Lula, e até convocam empresário a se rebelarem contra a atual política econômica, como se estivessem falando de outro governo.

O porta voz da ala rebelde, até então, tinha sido o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que sem meias palavras costuma confidenciar que não está sozinho na sua sublevação, que desfruta da concordância em divergir dos ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia).

O Brasil e Mantega estão fragilizados no momento: os efeitos colaterais do remédio dado para enfrentar a crise mundial, a famosa “marola de Lula”, mais os gastos descontrolados para exibir um falso cenário de Brasil pujante, para eleger a companheira poste, estão aparecendo agora em forma de inflação, descontrole nas contas públicas e minguados recursos para investimentos.

Portanto não é nada producente e até muito prejudicial à exibição dessa discordância pública aos rumos da condução da economia.

As fala de Luciano Coutinho, presidente do BNDES tem sido inconvenientemente didática e acidamente críticas afirmando por exemplo, “que a pretexto de conter a inflação, Brasília abandonou a ideia de segurar o câmbio. Algo que destrói a industria nacional.”

Apesar das noticia de ter sido admoestado por Dilma, devido às primeiras manifestações, nesta terça (12), Coutinho voltou ao tom orientador critico, ensinando a Mantega, através da mídia que “apesar de ser inevitável que investimentos fluam para uma economia em rápido crescimento como a do Brasil, o governo deveria emitir barreiras mais fortes contra dinheiro especulativo”.

E prosseguiu:

"Temos de selecionar os fluxos de capital benignos que ajudam a desenvolver a economia brasileira das atividades especulativas de curto prazo que, de certa maneira, são prejudiciais já que exageram a tendência de valorização da moeda", disse o rebelado Coutinho.

O real subiu na semana passada para o nível mais alto ante o dólar desde agosto de 2008, depois que o mercado desconsiderou as últimas medidas do governo para taxar investidores que estão lucrando com o juro de dois dígitos do país.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem tentado conter a contínua alta do real com uma série de medidas, incluindo impostos sobre empréstimos estrangeiros e outros controles de capitais, mas a ameaça e as novas medidas diluiem-se diante da realidade cambial.

Para infernizar ainda mais a vida de Mantega, na outra ponta do problema, que é sustentar a inflação, outra voz emergiu das trevas: o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, ancorado no Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (com o Senador José Sarney, por trás), disse em Pequim que, se os preços do petróleo continuarem no nível atual - e ele acredita que sim- haverá reajuste no preço da gasolina. Coisa que o ministro da fazenda vem dizendo seguidamente que não ocorrerá.

"Se o preço do petróleo ficar nesse nível que está hoje, estável nesse nível, você vai ter de alterar [o preço da gasolina], porque nós estávamos trabalhando com US$ 65 a US$ 85 [o barril]", disse Gabrielli, que integra a comitiva da presidente Dilma Rousseff, em sua viagem a China.

A fala de Gabrielli é irresponsável e danosa, pois, cria uma expectativa inflacionária, fazendo com que os efeitos do aumento, que ainda não ocorreu, comecem a aparecer por antecipação, sem contudo anular os efeitos reais quando a medida por ventura, vier a ser implementada.

O Brasil está pagando um preço muito alto por essa indefinição presidencial. Dilma precisa honrar as calças que veste, tomando uma atitude: ou apóia Mantega e cala a boca dos rebeldes ou manda Mantega passear e enfrenta as conseqüências.
Foto: Arquivo/Flickr
Dilma, cadê você?

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