“É
considerado um Lugar por estar inserido na grande Feira, e por abrigar um
conjunto de práticas e comportamentos portadores de significados socioculturais
específicos para o público, que é ator social deste espaço e atividade. Ao
mesmo tempo, representa um todo complexo envolvendo costumes centenários
ligados à instituição do escambo ou economia baseada na troca de bens,
frequente no interior do território do Brasil colônia ou Império, em vista da
precária e quase nula circulação de moedas...”
Para
quem não conhece, este texto acima pertence ao dossiê que deu o título de
Patrimônio Imaterial Brasileiro à Feira de Caruaru pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Nele, se lê a importância da Feira do
Troca-Troca no conjunto das feiras que compõe ao nosso maior patrimônio
cultural, junto com a Feira do Gado, mais antiga que a própria cidade.
Pois
bem. Leio estarrecido nos blogs e portais locais que uma das mais tradicionais
feiras da nossa cidade vai ser extinta, acabada, morta. A desculpa (bastante
plausível para quem adora jogar para a plateia) é a de que ela se transformou num
antro de marginais que vendem roubo, drogas, armas e coisas do tipo, gerando
instabilidade aos comerciantes do local.
Os
magnânimos pensantes que chegaram a esta conclusão, confortavelmente sentados para
decidir sobre o que não conhecem e, pior, deveriam se esmerar em defendê-la dos
abusos que são cometidos por quem eles afirmam ser, demonstram a mais completa
e absurda insensatez e incompetência na gestão da Cultura em nossa cidade. Que
as polícias queiram “erradicar” os seus problemas a qualquer custo, não cabe a
mim julgar o mérito. De fato, eles têm muita coisa pra resolver. Que o
Ministério Público seja palco de decisões difíceis e que, teoricamente, está
cheio de gente competente pra intermediar o debate, ótimo. Quanta simplicidade!
Quanta sagacidade! Decisão difícil? Que nada. A paisagem tá feia? A culpa é da
janela!
Nós
estamos assistindo nos últimos anos a um verdadeiro desmonte daquilo que
entendemos como as maiores ilustrações da nossa Cultura. Não bastasse a falta
de incentivos, esta sanha de acabar com nossa história começou com a derrubada da
Vila do Forró, “que não possuía nenhum valor arquitetônico”, diziam muitos e cujo
“processo” (olha só!) o próprio Ministério Público esqueceu. Isso mesmo.
Esqueceu!!! Os mesmos responsáveis pela derrubada da Vila foram os mesmos que
ergueram aquela maravilha da arquitetura chamada de Polo Cultural na estação
ferroviária? Deve ter sido. Porque há cinco anos convivemos com aquele
monumento “definitivo” e que só tem serventia durante o São João, quando são
renovadas sua estrutura fétida, suja e fadada a causar um incêndio de
proporções gigantescas no centro da cidade.
Faço
aqui uma ótima sugestão, modéstia à parte. Vamos pacificar a Feira de Caruaru?
Podemos começar pela Feira do Troca, o que acham? Depois poderíamos passar para
a Casa de Cultura (aquela que aprovamos quase meio milhão de Reais junto ao
mesmo IPHAN no projeto de revitalização, lembram?). E depois, os mercados de
Carne e Grãos. E depois, a Feira de Frutas, a de Couro, a de Flores, a de...
tudo, enfim. Podem até se vangloriar a qualquer tempo deste feito, como o Morro
(ou seria Monte?) Bom Jesus, recentemente “pacificado”. Mas, se após tudo isso,
não conseguirem, por favor, não extingam, acabem, matem a Feira de Caruaru.
Seria outra vergonha.
Quanto
à Fundação de Cultura eu nem falo mais. Não há nada a dizer sobre quem quase
também foi extinta, acabada, morta no início do ano, portanto moribunda. Não se
concebe um governo de uma cidade da envergadura da Cultura de Caruaru insista
numa estrutura que ele mesmo não quer. Com dirigente que é sem nunca ter sido.
Claudio Soares é assessor
parlamentar na Alepe e foi Coordenador Especial de Ações Culturais da Fundação
de Cultura entre 2001 e 2008.
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