Determinados setores da sociedade devem estar se regozijando com as palavras de Bebeto, Ronaldo e do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, sobre os preparativos para a Copa do Mundo. Elas são exemplo do mais pútrido tipo de nacionalismo, um que viceja no Brasil com a aproximação do mundial.
Na quarta-feira, enquanto jornalistas estrangeiros riam da situação dos estádios, Aldo comparava a construção das arenas a casamentos e dizia nunca ter visto um não ocorrer por conta do atraso da noiva. Uma tranquilidade inusitada, tendo em vista que o estádio da abertura está parcialmente destruído.
Bebeto, por sua vez, pareceu chateado com as críticas que seu ex-companheiro de ataque na seleção, o agora deputado federal Romário (PSB-RJ), tem feito à organização do mundial. “A luta é de todos nós brasileiros. (…) É o nome do nosso país que está em jogo. Temos que lutar para o Brasil fazer um dos melhores Mundiais de todos os tempos”, disse. Romário luta criticando e pedindo melhorias. Bebeto luta escondendo a sujeira embaixo do tapete.
Ronaldo, que se apresentou para uma Copa do Mundo dez quilos acima do peso, foi mais anedótico. “O gringo, no geral, não conhece o nosso jeitinho brasileiro de ser e fazer as coisas. É muito característico isso no brasileiro, de fazer as coisas no último momento e começar uma correria, mas a gente tem todas as garantias de que todos os estádios estarão prontos para a Copa”, disse Ronaldo. “Não compromete em absolutamente nada se atrasar um mês ou dois”, afirmou. O fato de Joseph Blatter estar pedindo a ajuda a Deus não corrobora os comentários do Fenômeno.
Há algumas semanas, escrevi um texto alertando sobre a possibilidade de as comemorações com dancinhas serem a face visível de uma mudança de comportamento por parte dos jogadores da seleção brasileira. Ali tratei do “espírito macunaíma”, uma parábola que serve para identificar fatos como a ironia de Rebelo, o comportamento de Bebeto e o jeitinho do qual fala Ronaldo. Impedir críticas a este estilo de agir, que muitas vezes se manifesta não só no futebol, mas na política, na educação, na saúde e arrasta o Brasil para trás, é lutar para manter o status quo, que no caso deste país é lastimável.
Na Copa, o vexame está posto. Tristemente, prevalece a supressão às críticas ao Brasil e à organização. É preciso “ousar ser brasileiro”, mas não esquecer da regra do “ame-o ou deixe-o”. Os macunaímas estão vencendo.
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