Ex-presidente sul-africano ficou conhecido pela luta contra apartheid
ATUALIZADA ÀS 19H21
O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela morreu nesta quinta-feira (5) vítima de uma infecção pulmonar. O ícone da luta contra o Apartheid na África do Sul havia sido internado no dia 8 de junho deste ano. Em setembro, Mandela passou a ser mantido em sua casa em Johannesburgo sob cuidados médicos.
O anúncio oficial foi feito pelo presidente sul-africano Jacob Zuma. "Queridos compatriotas, nosso bem amado Nelson Rolihlahla Mandela, presidente fundador da nossa nação democrática, faleceu. Nosso querido Madiba terá funerais de Estado", informou à nação.
"Se apagou em paz. Nosso povo perdeu um pai. Vamos expressar nossa profunda gratidão por uma vida ao serviço do povo deste país e da causa da humanidade. É um momento de profunda dor. Sempre te amaremos, Madiba", disse Zuma. As bandeiras serão colocadas a meio pau a partir desta sexta-feira (6) e até seus funerais. São esperadas cerca de 94 mil pessoas para as celebrações fúnebres.
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Em entrevista à imprensa internacional na última segunda-feira (3), sua filha Makaziwe afirmou que o pai era um lutador, mesmo estando próximo da morte. "Tata (pai) ainda está conosco, muito forte, (...) muito valente, mesmo sem uma aparência melhor, em seu leito de morte. Acho que sempre nos ensina alguma coisa: a termos mais paciência, amor, tolerância", declarou à rede de televisão pública SABC.
As idas e vindas de Mandela ao hospital causou grande comoção na África do Sul. O arcebispo Desmond Tutu, amigo do ex-presidente, pediu em junho que os sul-africanos rezassem pela recuperação do ícone.
Mandela, primeiro presidente negro da África do Sul, era atendido por uma equipe de 22 médicos em casa. Os problemas pulmonares do ex-presidente sul-africava estavam, provavelmente, ligados às sequelas de uma tuberculose que sofreu quando cumpria uma pena de prisão em Robben Island, perto da Cidade do Cabo, na qual passou 18 de seus 27 anos de detenção sob o regime do apartheid.
HISTÓRIA - O primeiro presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela, permaneceu separado de seus parentes e amigos e sofreu com inúmeras doenças por causa das quase três décadas em que esteve preso e, além disso, teve uma vida marcada por uma série de tragédias.
O conjunto sombrio da vida de Mandela soma a perda de três filhos, de uma bisneta e a experiência de dois divórcios. O primeiro grande golpe familiar vivido por ele aconteceu nos anos em que era casado com Evelyn Ntoko Mase, quando sua filha Makaziwe perdeu a vida com nove meses, em 1947.
Posteriormente, o filho mais velho do casal, Madiba Thembekile, morreu num acidente de trânsito em 1969, quando Mandela estava na prisão de Robben Island.
Lá, Mandela cumpria uma condenação à prisão perpétua por seu papel na criação do braço armado do Congresso Nacional Africano, uma pena ditada contra ele quando tinha 44 anos. As autoridades penitenciárias negaram que fosse ao enterro. O Prêmio Nobel da paz 1993 também não pôde se despedir de sua mãe, falecida um ano antes de morte de seu filho.
Em sua autobiografia, Mandela escreveu sobre a dor que sentiu ao não poder ir a esses enterros, e manifestou sentir-se culpado por antepor a luta política contra o regime racista do apartheid a sua família. "Tomei uma boa decisão pondo o bem-estar do povo antes do de minha família?", questionou-se então.
Outro filho de Mandela com Mase, Makgatho Lewanika Mandela, morreu vítima de uma doença vinculada a sua infecção pelo vírus da Aids em 2005.
Sobre esse caso, o ex-presidente falou com clareza, convertendo-se na primeira personalidade sul-africana a quebrar o tabu e falar da doença, em um país onde a pandemia registra os índices mais elevados do mundo. "Falemos publicamente da Aids e não nos escondamos, porque a única maneira de fazer parecer uma doença normal é dizer que alguém morreu de Aids", afirmou.
Sua franqueza contrastou com a atitude do também ex-presidente Thabo Mbeki, que durante um tempo negou a relação entre o vírus e a doença e chegou a frear a distribuição de medicamento antirretrovirais.
O casamento de Mandela com Mase acabou em divórcio em 1958, mas, em junho do mesmo ano, ele se casou com Winnie Madikizela-Mandela, uma união que também chegou a seu fim tristemente.
Depois dos 27 anos de Mandela na prisão, o casal se separou passados apenas dois anos de sua libertação, em 1990, apesar do divórcio se tornar oficial em 1996, em pleno mandato presidencial.
A estravagante militante se envolveu num escândalo ao se cercar dos seguranças do Mandela United Football Club, que mataram Stompie Sepei, um adolescente suspeito de ser um agente do regime dos brancos.
Mandela só se separou quando ela foi condenada pelo sequestro de Sepei, em 1992.
Em 1998, Mandela voltou a se casar, dessa vez com Graça Machel, que também está ligada a uma trágica morte, a de seu marido anterior, o presidente moçambicano Samora Machel, assassinado em um misterioso acidente aéreo no norte da África do Sul em 1986.
Por fim, a morte de sua bisneta, Zenani Mandela, de 13 anos, em um acidente de carro em 11 de junho de 2010, obrigou o ícone da luta contra o apartheid a permanecer de luto ao invés de participar na cerimônia de abertura do Mundial de futebol da África do Sul.
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