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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Terceira "Marcha das Vadias" no Recife: exigência do fim da violência contra a mulher

As mulheres continuam sofrendo todo tipo de violência física e psicológica. Um cardápio que inclui humilhação, estupro e assassinatos. O estado de Pernambuco, como um todo, com destaque para o Recife, amarga alguns índices recordes vexatórios e crescentes de violência contra as mulheres. O movimento “Marcha das Vadias” serve para denunciar e fazer refletir sobre essa barbárie.
Foto: Nathalia Verony /Flickr

Imagens da “Marcha das Vadias“ no Recife, 25 de maio de 2013



Duas mil pessoas participaram da terceira edição da "Marcha das Vadias"no Recife, que saíram às ruas da cidade, na tarde deste sábado (25), para pedir respeito e defesa às mulheres e denunciar a violência sexual. O evento acontece simultaneamente em outras capitais brasileiras, como São Paulo e Belo Horizonte.

Quase sempre organizada pelas redes sociais, este ano a marcha do Recife contou com diversos debates preparatórios. No Facebook, o evento da Marcha das Vadias contou com quase 2.600 confirmações.
Foto: Mark Blinch/ Reuters

COMEÇO DE TUDO – Multidão participando da primeira Marcha das Vadias (Slutwalk) em Toronto, Canadá, 3 de abril de 2011


O Movimento Slutwalk, vertido para "Marcha das Vadias", no Brasil, surgiu no Canadá, no início de 2011. Na época, diversos casos de abuso sexual em mulheres estavam acontecendo na Universidade de Toronto. Convidado o policial Michael Sanguinetti fez uma palestra sobre segurança pessoal no campus de faculdade de direito, em Toronto, entre as recomendações ele disse que "As mulheres deveriam evitar se vestir como vadias para não serem vítimas”.

A frase, mal posta, levou milhares de mulheres às ruas de todo o mundo protestarem contra a crença de que 'as mulheres facilitam, pedem ou contribuem para serem estupradas' ou qualquer outro tipo de violência.
No Recife, nesta ano, a caminhada saiu da Praça do Derby e seguiu pela avenida Conde da Boa Vista, na região central da capital. A manifestação começou às 14h e terminou, quase três horas depois, na Praça da Independência.

Uma fileira interminável de cartazes propagava a luta pela desconstrução de valores machistas impostos pela sociedade. Mulheres, crianças, homens, pais e filhos desfilaram pelas Avenidas Conde da Boa Vista e Guararapes com os dizeres de alerta. "É uma celebração triste; estamos reinvindicando para que não haja violência, mas a sociedade ainda não entende", comenta Késia Salgado, uma das organizadoras do evento.

Durante a concentração e pelo percurso, várias intervenções artísticas de grupos que apoiam a causa. Nas performances, direito a mulheres nuas ou com poucas peças de roupas para desconstruir a visão do 'sexo frágil' ou a crença de que as mulheres pedem para ser estupradas. "A marcha vem para mostrar que as mulheres não ficarão mais caladas, que a impunidade não vai acontecer; vivemos uma epidemia e a sociedade tem que se reeducar", ressaltava Késia.

Já no final da marcha, na Praça da Independência, o grupo abriu espaço para os depoimentos. Com megafones, mulheres vítimas de agressões compartilharam com os presentes suas experiências. De acordo com a organização, a marcha ganhou mais seguidores neste ano.

Apesar de todos os movimentos e reações da sociedade, continua a crença de que uma mulher vestida de forma mais provocante, está pedindo para ser estuprada. O comentário do policial canadense está na cabeça das autoridades e da sociedade estereotipada.

As vítimas de estupro, ao responderem o questionário policilial, no momento da queixa, são sempre interrogadas, como se tivessem culpa do que aconteceu, pergunta-se sempre, o que estava vestindo? Por que estava aquela hora naquele local? Por que estava sozinha? A quanto tempo não fazia sexo, quantos parceiros já teve, se tem alugum relacionamento fixo? Etc.
Foto: Nathalia Verony /Flickr

Imagens da “Marcha das Vadias“ no Recife, 25 de maio de 2013
Não fica descartada a insinuação de sensualidade e permissão incial mesmo quando se tratada de crianças e tenras adolescentes. As respostas das vítimas, sob forte emoção e na maioria das vezes conduzidas pelo interrogador preconceituoso, são sempre valiosos trufos "muito bem usadas" pelos advogados dos estrupadores, alegando as circunstancias provocadas pela vítima.

A concepção geral é como se houvesse uma tentação irressitivel, ao homem pedrador, diante da mulher de roupas atraentes, circulando fragilisada e sozinha por locais com pouco frequencia.

A violência fisica, desfiguração e até a morte ocorrem com uma frenquencia insuportável, por homens que se voltam contra as mulheres que não querem continuar um relacionamento, principalmente, se elas inciam um novo.

Para alguns o fato é agravado, com a persepção de que a mulher pertence ao homem, como uma propriedade privada. "Se não vai ser mais minha, não será de mais ninguém" dizem os assassinos de mulheres enciumados, por terem sido rejeitados pelas mulheres.

Lembrar que até os anos 60, do século passado, os tribunais ainda aceitavam com "legítima defesa da honra", argumento para justificar, abrandar as penas, ou inocentar os homens que matavam as mulheres que o traíssem.
Foto: Nathalia Verony /Flickr

Imagens da “Marcha das Vadias“ no Recife, 25 de maio de 2013
De janeiro a dezembro de 2012, a Central de Atendimento à Mulher Nacional (Ligue 180) contabilizou 732.468 registros, sendo 88.685 relatos de violência. Isso significa que, a cada hora, dez mulheres foram vítimas de maus tratos ao longo do ano passado.

As denúncias de violência contra a mulher cresceram 46% em 2012. Segundo dados do Disque-Denúncia Pernambuco, foram 866 ligações ao longo do ano passado, frente a 593 em 2011. Na maioria dos casos, o agressor é o próprio marido e o crime ocorre no ambiente doméstico.

Nos últimos 12 anos, já foram mais de 6.500 denúncias, que vão deste agressão verbal, física até cárcere privado e abuso sexual. Um crescimento de informações não quer dizer obrigatoriamente maior violência. O fato é que muitas mulheres não estão mais aceitando caladas as situações em que sofrem algum tipo de agressão”, explica a superintendente do Disque-Denúncia penambucano, Carmela Galindo.

Todo e qualquer tipo de violência contra a mulher deve ser denunciado. Até mesmo um simples empurrão pode dar indícios de que a violência possa chegar a uma ocorrência mais grave, como o homicídio. Por isso é fundamental fazer a denúncia ainda na primeira vez em que existir esse desrespeito.
Foto: Nathalia Verony /Flickr

Imagens da “Marcha das Vadias“ no Recife, 25 de maio de 2013
Desde 2006 está em vigor a Lei Maria da Penha, que prevê três anos de prisão para o agressor, impossibilitou o cumprimento de penas alternativas e permitiu o decreto de prisão preventiva. Já em 2012, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) passou a permitir que o acusado seja denunciado pelo Ministério Público mesmo que a mulher não apresente queixa.

“Mesmo assim, por se tratar de um crime cometido no ambiente doméstico, a maior dificuldade ainda é o registro da queixa. Por isso é importante a existência de canais, como o Disque-Denúncia, para o registro anônimo. Mesmo pelo site conseguimos preservar a identidade do denunciante”, lembra a superintendente da entidade.

As denúncias podem ser realizadas pelo site www.disquedenunciape.com.br, com o envio de fotos e vídeos. Por telefone, é possível entrar em contato através do 3421-9595, na Região Metropolitana do Recife e Zona da Mata Norte, ou pelo (81) 3719-4545, no interior do estado. O anonimato é garantido.

Apesar de debochado, por vezes, apelativo o movimento merece respeito e atenção. Ao lado, em cima, em baixo da mulher, observando, ou sendo observado, “thepassiranews”, defende, apoia e participa da “Marcha das Vadias”, com se vadia fosse.
Foto: Nathalia Verony /Flickr

Imagens da “Marcha das Vadias“ no Recife, 25 de maio de 2013



Comentário de nosso Blog: É melhor que parada guêi...

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