Em Garanhuns por volta do meio dia o sol está tão quente, nesse final de
outubro, que temos a sensação de estar em outra cidade. O clima ameno
da Suíça Pernambucana parece ter sido exportado e tomamos emprestado o
calor de Arcoverde, Serra Talhada ou outros municípios do Sertão
próximo. Na verdade estamos sofrendo os efeitos da seca, uma das piores
da região nos últimos 30 ou mesmo 50 anos. Quem pega a estrada em
direção a Caruaru fica desolado a partir de São Caetano. Por ali está
parecendo um deserto. Mas nem precisa ir tão longe. Nas proximidades do
aterro sanitário de Garanhuns, perto da divisa com Caetés, a paisagem
também é de entristecer qualquer cristão.
A situação é muito séria, com reflexo nas feiras livres, na
comercialização de gado, nas lojas de Garanhuns e de todas as cidades
interioranas. Tem pecuarista vendendo vaca de R$ 2 mil por R$ 500,00. O
que tem de boi vendido para o Maranhão está difícil dimensionar. Um
amigo meu entregou por uma bagatela cerca de 200 reses, por menos da
metade do preço. "É melhor de que ver morrer tudo", justificou.
Neste quadro os pequenos comerciantes estão sufocados, se vende muito
pouco. O dinheiro encurtou e brinquedos, roupas, sapatos, jogos
eletrônicos e até celulares passaram a ser supérfluos. O essencial mesmo
é comida. E com a seca o quilo de feijão faz tempo que passou de 5
reais. O feijão de corda verde ou a fava estão por 8 reais nas feirinhas
de Garanhuns. Um quilo de farinha em muitos estabelecimentos não sai
por menos de 4 reais.
Na verdade a situação só não é mais trágica por conta do Bolsa Família, que mata a fome de muitos e movimenta o pequeno comércio das periferias.
Na verdade a situação só não é mais trágica por conta do Bolsa Família, que mata a fome de muitos e movimenta o pequeno comércio das periferias.
O Brasil não tem furacões, como nos Estados Unidos, mas a seca no
Nordeste está de volta desde 2011, pode se prolongar por 2013 e faz
estragos maiores do que o Sandy da terra de Obama. Pode não estar
matando de imediato, não ter a visibilidade do "astro americano",
contudo está destruindo aos poucos. A lavoura, a terra, os bichos,
afugentando o homem de seu chão, empobrecendo as pequenas e médias
cidades.
O governador Eduardo Campos já chamou a atenção da presidenta Dilma para
a questão. Ontem foi a vez do senador Humberto Costa discursar sobre a
seca no senado.
Está na hora de pensar menos em 2014. De encerrar a discussão sobre quem
perdeu mais ou foi o grande vencedor de 2012. Governos municipais,
estaduais e federal devem concentrar seus esforços no problema da
estiagem.
A situação é séria mesmo e se entrar 2013 sem chuva pode anotar aí: nem a
Barragem do Cajueiro vai evitar um racionamento em Garanhuns. Até
porque, não sei se os moradores da cidade já notaram, faz um bom tempo
em que a água só está chegando nas torneiras à noite. Sinal de que os
dirigentes da Compesa já estão tomando medidas preventivas.
Que se faça alguma coisa e já. A seca não tem dó de ninguém e acaba com a esperança da gente nordestina.
Portal Nordeste.com
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