Aos
poucos os grandes veículos de comunicação do Sudeste abrem espaço para falar da
seca do Nordeste, que segundo alguns é uma das piores dos últimos 50 ou 80
anos. O jornalista Carlos Madeiro, do Portal UOL, escreveu essa reportagem
sobre a estiagem, que atinge todos os Estados da região e mais uma parte de
Minas Gerais. (As áreas em vermelho são as mais críticas).
FALTA ÁGUA ATÉ PARA FAZER CISTERNA
A falta de chuvas no inverno e nesse
início da primavera tornou ainda mais crítica a seca no semiárido nordestino.
Segundo dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil, são 1.171 municípios em
situação de emergência por conta da prolongada estiagem na região. Em alguns
casos, há regiões onde não cai chuva há mais de um ano.
Muitos municípios nordestinos estão enfrentando colapso no
abastecimento de água, e cresce o número de comunidades nas zonas rurais que
recebem carros-pipa. Por conta da falta de alimentos e água, muitos animais
estão morrendo nos pastos, assim como produções inteiras foram perdidas nos
últimos meses.
“A seca está cada vez pior. Até para para
construir as cisternas temos que comprar água porque não tem onde pegar em
hipótese alguma. Se a gente não comprar, para de construir. Nunca vi na isso na
vida, é negócio impressionante”, contou o presidente da ASA (Articulação do
Semiárido), organização que congrega mais de 700 instituições do sertão
nordestino.
Apesar da estiagem ter "saído do noticiário", os
nordestinos não têm dúvida que a situação tem se agravado ao longo dos últimos
meses. “O semiárido todo está nessa situação crítica. Já passei várias secas,
mas como essa nunca vi. Se não chover em 15 dias, um mês o negócio será muito
complicado. Até o mandacaru quer ficava de pé mesmo na seca já arriou. A água
que ele guardou na chuva gastou já.”
Na Bahia, Estado mais afetado pela estiagem, com mais de 250
municípios em situação de emergência, o quadro é considerado preocupante,
especialmente pelas queimadas.
“O quadro se agravou, já estamos com mais 3 milhões afetadas.
Agora, com o aprofundamento desse quadro, começou uma temporada ampla de focos
de calor e incêndios. Nesse sentido, o governo decretou emergência 60
municípios”, disse o coordenador da Defesa Civil, Salvador Brito.
Para conter os incêndios, oito aviões estão sendo utilizados
--seis do Estado e dois do Instituto Chico Mendes--, além de helicópteros da
Polícia Militar, que também participam das ações. “O governo solicitou apoio da
Força Nacional dos Bombeiros para dar ajudar no combate aos incêndios.”
Segundo Brito, quase todos os
mananciais estão secos e não há muitas opções para abastecimento. “Estamos com
a operação de abastecimento de água de forma mais ampla. Obras emergenciais
também estão sendo feitas para minimizar o impacto a médio prazo do
abastecimento, além de outras ações em conjunto do governo federal. Além da
comercialização do milho, do pagamento do Seguro Safra e do Bolsa Estiagem.”
Em Pernambuco, o governador Eduardo
Campos (PSB) assinou, na última quarta-feira (31), um decreto renovando a
situação de emergência nos municípios do sertão pernambucano por mais seis
meses – o decreto atual vale até a próxima segunda-feira. O Estado enfrenta
problemas como a redução da produção de leite, que afetou produtores de
diversos municípios sertanejos.
No Ceará, 94 municípios já são atendidos por carros-pipa. Ao
todo, 174 municípios estão em situação de emergência. O volume médio dos
reservatórios de abastecimento não passa dos 55%, uma das piores médias das
últimas décadas.
No Piauí, onde 174 municípios estão em emergência pela seca, 220
carros-pipa estão atendendo 95 municípios. “Não tivemos nada de chuva no
inverno, e isso agravou muito a situação. Esse período agora, inclusive, era
para ser chuvoso, e até agora não caiu nada. Se não chover, não quero nem
imaginar como vai ser”, afirmou Jerry Herbert.
Na Paraíba, a seca levou o Estado a adiar a segunda etapa da
campanha de vacinação contra a febre aftosa, que começaria na quinta-feira
(1°). A campanha ocorrerá apenas em dezembro.
Segundo previsões meteorológicas, não
há perspectiva de chuvas em curto prazo. As precipitações só devem ocorrer no
início do próximo ano.
Um mapa da
vegetação e uso do solo no Brasil mostra que a seca afeta todos os Estados do
Nordeste e parte de Minas Gerais.
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